13ª Fenacam adota foco nos “filhos da mancha branca”; em 2017, feira vai para Natal

13ª Fenacam adota foco nos “filhos da mancha branca”; em 2017, feira vai para Natal

Abertura dá tom de reconstrução do setor em novo modelo produtivo mais intensivo

22 de novembro de 2016

Quem esperava consternação e sobriedade na abertura da 13ª Fenacam, ontem (23/11), no Centro de Eventos do Ceará, em Fortaleza, enganou-se. O lamento pelos impactos da mancha branca foi geral, mas as autoridades presentes fizeram questão de pontuar a reação dos produtores diante das dificuldades, antecipando o que provavelmente será o clima da feira.

Antes do forró e sertanejo ao vivo de Ítalo e Renno impedirem qualquer conversa, mesmo ao pé do ouvido, os presentes assistiram à sucessão de discursos dirigidos “aos filhos da mancha branca”, como descreveu o presidente da Associação Cearense de Criadores de Camarão (ACCC), Cristiano Maia.

“A Fenacam é focada neles”, disse, dirigindo-se diretamente ao público. “Além da dificuldade que o Brasil impõe ao setor produtivo em geral, temos que lutar contra a natureza também: falta de chuva, seca, salinidade alta, vento, doença.” Ele frisou que, apesar de a mancha branca ter chegado ao Brasil, a carcinicultura ainda não enfrenta outras doenças graves, como a EMS.

Maia aproveitou ainda a oportunidade para sustentar a posição contrária às importações pelo argumento sanitário. “Não temos medo de vir camarão concorrer com a gente, mas temos medo da doença. Este ano a doença nos pegou no Ceará. Onde ela chegou acabou. Já estamos sofrendo com essas doenças e não queremos outras”, pontuou.

Segundo anunciou o empresário, nesta quarta-feira (23/11), o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, vai a Aracati para visitar algumas propriedades. Na ocasião, de acordo com Maia, ele assinará uma Instrução Normativa para uma análise de risco de importação de doenças para o camarão. “Aí ele vai assumir um compromisso com o setor”, cobrou.

O segmento produtivo representado por essas entidades anseia por um resultado favorável à proibição das importações, já que a disseminação da mancha branca dizimou as produções. “Acredito que neste ano a produção deve diminuir 40%. Calculo neste ano no máximo 30 mil toneladas.” No ano passado, o Ceará produziu 55 mil toneladas segundo a ACCC. A meta era passar de 60 mil toneladas em 2016.

Em uma troca de gentilezas, Maia foi citado por Itamar Rocha, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC) como um exemplo nacional, pela decisão de adquirir a Potiporã, em Pendências (RN). “Acho que exista ninguém que possa representar mais o espírito empreendedor do País do que Cristiano Maia, que fez um grande investimento na maior fazenda brasileira em um ano dos mais difíceis do País.”

Mudança de paradigma

Como antecipamos na cobertura da 12ª Fenacam (Seafood Brasil #12), o setor já passava por uma mudança no modelo produtivo por conta da estiagem e da busca pela eficiência. Com as doenças, isso se acelera e já é possível notar diversas empresas que adotaram modelos asiáticos de produção intensiva, nutrição por bioflocos, raceways e outras tecnologias produtivas.

Segundo Rocha, trata-se de um câmbio que a doença trouxe. “É a mudança do paradigma do setor de evitar a mancha branca para aprender a conviver com ela”, disse na apresentação. “Agora não adianta chorar pelo leite derramado, nem apontar os culpados, mas arregaçar a camisa.”

Nesta linha, o presidente da Associação Norte-Rio-Grandense de Criadores de Camarão (ANCC), Orígenes Monte, quis passar uma mensagem de otimismo. “Dificilmente passaremos por um momento tão bom quanto esse, apesar da mancha branca”, explicou, para a surpresa dos presentes.

“Aonde ela chegou, dentro de pouco tempo aquele país começou a produzir mais do que quando produzia sem a mancha branca”, citando como exemplo potências asiáticas do vannamei, como a Indonésia. “No método intensivo, asiático, se tivermos coragem é possível produzir 50, 60, até 70 mil toneladas por hectare de produção”, calculou.

Ele mencionou ainda a publicação da lei estadual Nº 9.978, apelidada “Cortez Pereira”, considerada pelo empresário como pioneira na regulamentação ambiental da carcinicultura dentro do novo Código Florestal. O dispositivo havia sido vetado pela então governadora potiguar Wilma de Faria, mas foi sancionada em 2015 pelo atual governador, Robinson Faria. “Temos hoje uma segurança jurídica para criar e produzir”, completou Monte.

A lei enquadra a carcinicultura como atividade agrosilvipastoril e inclui diversos regramentos para a instalação dos cultivos em respeito à legislação ambiental. Determina, por exemplo, que a área total de cultivo a ser ocupada no Estado é de 35%, excluídas as ocupações consolidadas até 22 de julho de 2008. As propriedades construídas antes desta data em Áreas de Proteção Permanente (APP) foram anistiadas, com assinatura de um termo de compromisso com contrapartidas ambientais.

Faria sublinhou que hoje a atividade de carcinicultura potiguar é “protegida de qualquer ataque de órgãos do meio ambiente”. O governador fez questão ainda de frisar a importância econômica da atividade. “No meu Estado, a carcinicultura gera 50 mil empregos diretos e indiretos. É muita coisa para um Brasil em desemprego. Por isso que é fundamental que a carcinicultura possa evoluir em propostas inovadoras para que se fortaleça a atividade no Nordeste.”

Ele prometeu a construção de um “parque tecnológico” para o setor, que envolve estruturas da genética à engorda. Conclamou ainda os bancos a negociarem com os produtores, já que não existe mais pendências para o licenciamento ambiental – o que trava a alavancagem financeira. “É importante que o Banco do Nordeste e do Brasil se sentem com os empresários, com o governo, para oferecer um crédito à altura. Faremos um convênio para que os bancos se encontrem com as associações e dialoguem. Essa é a chave da governança.”

Fenacam 2017 será em Natal

O contexto político também deu o tom da cerimônia. Representantes da Bahia Pesca, secretarias de agricultura do Ceará e Rio Grande do Norte, além do próprio governador potiguar participaram do evento. Todos ouviram de Itamar Rocha que a Fenacam 2017 voltará a Natal, depois de três anos consecutivos na capital cearense.

Uma fonte consultada no evento pela Seafood Brasil confirmou que a percepção é a de que o governo do Ceará não apoiou tanto a carcinicultura e a feira especialmente quanto o Estado vizinho, segundo maior produtor de camarão do País. A lei Cortez Pereira foi citada como exemplo.

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