Bastidores da notícia: a rotina da Ceagesp

Bastidores da notícia: a rotina da Ceagesp

30 de agosto de 2013

A revista Seafood Brasil publica em sua segunda edição um especial sobre a Ceagesp, a maior central atacadista de pescado do Brasil. O repórter Léo Martins passou uma madrugada entrevistando todos os permissionários e acompanhando a árdua rotina dos profissionais do local. Veja aqui o testemunho dele e, na revista, a reportagem completa.

Aos olhos do repórter

O antes

Quem mora em São Paulo sabe o quanto o clima dessa cidade é maluco. Mas nesse mês de julho, fez um frio que há tempo eu não sinto por aqui, frio esse que piora na madrugada. Agasalhado, sai da minha casa por volta da 1 hora da manhã rumo à Ceagesp, local muito famoso na cidade de São Paulo por ser uma “feira” com proporções maiores do que as convencionais. Chegando ao local, me dirigi ao portão 03, que me daria acesso ao centro de comercialização de pescados. Pontualmente às 1h30, pude verificar a olho nu a magnitude da estrutura.

[caption id="attachment_1933" align="alignright" width="415"]notícia_bastidores_ceagespLeo Léo Martins, repórter do Seafood Brasil[/caption]

O durante

Com alto clima de descontração, a impressão é que todos se conheciam. E era verdade. A cada passo que eu dava pela praça de pescado, em meio a muito gelo, peixes e trânsito de carrinhos, a interação entre os profissionais era sempre marcada por muitos sorrisos, mão no ombro, conversas e brincadeiras. “Estou aqui há 38 anos e fico mais aqui do que na minha casa. Tem funcionário meu que está comigo há 30 anos e por isso, faz parte da minha família. Partilhamos dificuldades, ganhos, desabafos e favores.”, revela Vagner Sola, proprietário da Fipesca. “Parece mentira, mas aqui trabalhamos como nos velhos tempos, só no ‘fio do bigode’, na base da confiança”, diz José Pereira de Souza, o Trovão, que nessa declaração, abriu um enorme sorriso. E nesse contexto, um elemento em específico me chamou muita atenção: o café. A bebida que é tão popular no Brasil, também é um forte elo entre os permissionários. “Apesar de a rotina ser corrida, quando pinta um tempo, montamos uma rodinha pra tomar café. Esse é um importante momento para nós, pois além de podermos jogar papo fora e nos permite até negociar melhor com o cliente”, relata o entusiasmado Vagner Sola.

Um pouco antes do apito final, resolvi passar nos locais onde os principais personagens da Ceagesp se reúnem para interagir. O primeiro deles, chamado de Lanchonete Pescado, se assemelha a uma padaria, oferecendo os mais diversos tipos de lanches e, é claro, o tradicional café. Já o segundo local é formado por um complexo de seis pequenos estabelecimentos que vendem diversos tipos de comes e bebes. Assim que adentrei esse complexo, ficou nítido o porquê as praças de pescados são o espelho da cidade de São Paulo: pessoas dos mais diversos sotaques, das mais diversas etnias e culturas possíveis. Lá dentro, enquanto um estabelecimento passava o noticiário da madrugada, o outro tocava no rádio o ritmo nordestino arrocha e no da frente o clipe do rockstar norte-americano Marilyn Manson passava na televisão. Nunca me senti tão em São Paulo quanto naquele momento.

Que a Ceagesp é um importante centro de abastecimento, não é mais novidade para ninguém. Quando questionei Trovão se ele gostava de trabalhar na Ceagesp pescado e qual a importância que o lugar tinha para ele, prontamente fui respondido. “Esse local é tudo para mim. É minha vida. Em 34 anos acho que não tirei 10 dias de férias. Mas sendo sincero, se eu ficar um dia sem vir aqui, meu dia acabou. Sou viciado nesse lugar”, confidencia Trovão.

Parece que foi brincadeira, pois logo após a essa declaração, a sirene ecoou pelo pátio. Quando olhei no relógio e atestei que eram 6 horas da manhã, tomei um susto. O processo de finalização dos pátios tinha dado início de maneira tão sutil, que foi difícil perceber. O fim de mais um dia de expediente havia acabado de ser anunciado.

O depois

Me despedi de todos aqueles que tive prazer de conhecer. Sai da Ceagesp rumo a estação de trem para que assim, pudesse tomar a condução de volta para casa. O que eu achei engraçado é que o trem estava consideravelmente cheio, com boa parte daqueles passageiros formados por trabalhadores também voltando para suas respectivas casas. O que eu aprendi com toda essa experiência é que aquilo que eu vivenciei na madrugada, é a literal tradução do que é a cidade de São Paulo representada nos 27 mil m² do pátio pescado: agitação, correria, pluralidade de pessoas e culturas, trânsito, frio e vidas de trabalhadores que apesar de possuírem perspectivas de dias melhores, tem muito orgulho daquilo que fazem. Assim, descobri que se a Ceagesp é importante para São Paulo, é porque em primeiro lugar ela é importante para as pessoas que o integra. Com isso em mente e o sol no rosto, tive a perspectiva de que independente do horário, cada trabalho merece seu devido respeito, principalmente no que diz respeito a sua rotina. E é exatamente isso que faz com que o seu ou o meu trabalho seja singular: aquilo que só nós vivemos em nosso dia-a-dia.

Fui deitar e quando estava caindo no sono, ouvi uma sirene tocando. Meu despertador dizia que eram 8 horas da manhã e em condições normais, meu dia começaria naquele momento. Me senti estranho, pois enquanto estava indo dormir, pensei que muitos outros estavam indo ao trabalho. Mas essa é a nossa vida, um retrato fiel da nossa rotina, não é mesmo? E qualquer semelhança com ela, realmente não é mera coincidência. Sendo assim eu sorri, me rendi ao sono e adormeci  profundamente...      

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