Chile reage à queda das exportações de salmão ao Brasil; Oceana critica antibióticos

Chile reage à queda das exportações de salmão ao Brasil; Oceana critica antibióticos

Terceira etapa de campanha da marca setorial vai focar no consumo no lar; indústria chilena reconhece problema e cria projeto para reduzir antibióticos

10 de novembro de 2016

Uma plateia atenta de jornalistas e blogueiros acompanhou o preparo de duas receitas apresentadas pelo chef Cássio Prados no Eataly São Paulo, no último dia 21 de outubro. Melanie Whatmore, gerente da marca setorial Salmón de Chile, participou do evento com um claro objetivo: promover mídia espontânea para incrementar as exportações do salmão Atlântico ao Brasil. Alguns dias depois, os chilenos comemoraram a marca de 500 mil fãs no perfil da marca setorial no Facebook.

O salmão chileno atravessa um ano difícil desde a crise das algas no início do ano e o aumento de preços motivada por uma escassez momentânea do produto no mercado brasileiro, hoje o terceiro maior mercado mundial. De janeiro a outubro deste ano, o salmão fresco HG (eviscerado e sem cabeça) do Chile apurou uma queda de 17,5% no volume importado pelo Brasil sobre o mesmo período do ano anterior (53,2 mil toneladas contra 62,5 mil toneladas).

Só que o preço cresceu, refletindo um certo ajuste do patamar de preços praticado anteriormente, segundo os exportadores, e também um equilíbrio da oferta disponível. Isso também criou espaço para a subida do HG congelado (+28,10%), que atingiu 4,7 mil toneladas ante 3,4 mil de 2015.

[caption id="attachment_8693" align="alignleft" width="199"]30500381466_d2222a13b2_z Melanie Whatmore, gerente da marca setorial Salmón de Chile[/caption]

O desempenho motivou um reforço na terceira fase da campanha da marca setorial das indústrias chilenas, que agora busca recolocar o produto em rota de crescimento, sem mudar o foco da espécie. “As exportações do salmão chileno ao Brasil são 99% do Atlântico. A Salmón de Chile não tem como foco aumentar o consumo de salmão coho, uma espécie que se exporta principalmente ao Japão. O consumo no Brasil seguirá principalmente do salmão Atlântico”, diz Melanie.

O objetivo principal desta movimentação dos chilenos é aumentar a popularidade do produto dentro de casa, uma vez que a porta de entrada foram os restaurantes japoneses. “O objetivo é que a consumidora brasileira conheça como preparar o salmão e o inclua dentro do cardápio semanal no lar.” A mulher, como tomadora de decisão dentro do lar, é o foco da campanha.

A ação também pode beneficiar residualmente outras origens e espécies de salmão, como do Alasca, China e Noruega, e até a truta salmonada, que o Peru começou a exportar este ano. O país andino registrou uma exportação de 58,8 toneladas de filés de truta a um preço médio alto, de US$ 9,16.

O filé de salmão Atlântico, fresco ou congelado, fica no patamar de US$ 8,38 por kg (Chile) e US$ 6,19 por kg (China). O salmão selvagem do Alasca, obtido pela pesca extrativa no Pacífico norte, foi o mais barato de todos no período analisado, com preço médio de US$ 3,21 o kg. A Noruega, que no ano passado vendeu seus filés a US$ 10,81 o kg, saiu do mercado de salmão no Brasil este ano.

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ONG mira salmão chileno e indústria reage

Com atuação mundial, inclusive no Brasil e Chile, a Oceana, uma organização não governamental para a conservação dos oceanos, publicou nesta quarta (09/11) artigo em que não recomenda o consumo de salmão chileno no Brasil. A entidade usa o argumento de que a quantidade de antibióticos usada no produto tem potencial para criar bactérias capazes de resistir a medicamentos de uso comum para tratar doenças em humanos.

A Oceana usa dados do Serviço Nacional de Pesca e Aquicultura do Chile (Sernapesca). Segundo os quais, em 2015, a indústria do salmão do Chile usou 660 gramas do produto por tonelada métrica, enquanto os criadouros da Noruega, primeiro produtor mundial, usaram apenas 0,17g. “Trata-se de um problema importante, porque a produção chilena abastece muitos países, inclusive o Brasil. Conforme as informações publicadas, não podemos ter certeza de que estamos consumindo um produto saudável e inofensivo. Além disso, ao consumi-lo, alimentamos uma cadeia danosa ao meio-ambiente e aos oceanos”, diz a diretora geral da Oceana no Brasil, Monica Peres.

Em junho deste ano, um informe do Sernapesca relatado pelo jornal local La Tercera trouxe estes dados, apurados pela autarquia com 46 empresas chilenas. A Sernapesca diz que 90% do uso destes antibióticos é para tratar a Septicemia Rickettsial Salmonídea (SRS), principal doença que acomete a produção chilena, já que vacinas e outros recursos seriam ineficazes.

A associação que reúne as indústrias salmoneiras (SalmonChile) argumenta que os antibióticos não estão incluídos entre os tidos como críticos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para consumo humano e seu uso acontece de acordo com as normas da Organização Internacional de Saúde Animal (OIE). Reiteram ainda que estes antibióticos são aprovados nos mercados-destino, como o Brasil, e não deixam nenhum rastro no produto final, além de não constituírem nenhum risco à saúde.

Liesbeth van der Meer, diretora executiva da Oceana no Chile, reitera que todos os antibióticos administrados aos salmões são idênticos ou similares em sua composição química aos usados em tratamentos de humanos. “A tetraciclina, por exemplo, é usada para combater acne e sífilis. A trimetoprima, em tratamentos de infecções urinárias e respiratórias.” Leia mais aqui.

[caption id="attachment_8695" align="aligncenter" width="600"]Lançamento do Projeto Pincoy, em agosto Lançamento do Projeto Pincoy, em agosto[/caption]

Ao reconhecer o alto nível de antibióticos, a indústria concentrada na SalmonChile se reuniu extraordinariamente em 07 de junho para discutir o caso. A articulação desembocou no Projeto Pincoy, que abriga empresas locais e globais, como Skretting, AquaGen/Blue Genomics, Pharmaq, Centrovet, Cermaq, Blumar e Ventisqueros, para discutir a “redução drástica” dos antibióticos.

O projeto, lançado em agosto, tem a intenção de elaborar estratégias de programas genéticos, dietas funcionais e de alto desempenho, seleção cuidadosa de smolts, vacinas, protocolos de melhores práticas tanto em etapas de água doce como no mar, além de um monitoramento cuidadoso e apresentação de relatórios. Leia mais aqui.

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