Com mecanização de cultivo, Cavalo Marinho quer triplicar produção brasileira

Com mecanização de cultivo, Cavalo Marinho quer triplicar produção brasileira

Levar o cultivo e processamento de mexilhão a outro patamar. É esse o objetivo de Luiz Valle, presidente da Cavalo Marinho, entrevistado para a seção Marketing & Investimentos da revista Seafood Brasil #3.

05 de dezembro de 2013

Levar o cultivo e processamento de mexilhão a outro patamar. É esse o objetivo de Luiz Valle, presidente da Cavalo Marinho, entrevistado para a seção Marketing & Investimentos da revista Seafood Brasil #3. Na entrevista a seguir, transcrita na íntegra, o empresário dá detalhes do investimento de R$ 7 milhões que a empresa está fazendo para automatizar a produção do Perna perna.

1) Que investimentos a Cavalo Marinho está por fazer na maricultura?

A empresa está investindo R$7 milhões em equipamentos para automatizar a produção de mexilhão, um velho sonho da maricultura brasileira. Com as máquinas, sua capacidade de desconche se elevará de 100t/mês para 1.800t/mês. Praticamente uma vez e meia a produção nacional. Com os novos equipamentos, teremos condição de comprar 100% do marisco que os produtores catarinenses e ainda assim teremos de aumentar muito o nosso cultivo próprio. Volume que, entretanto, não representará senão pequena parte de nossa capacidade industrial. A solução será cultivar mais. Para isso, estamos prospectando novas áreas de cultivo.

2) Qual o impacto da tecnologia sobre o atual ciclo produtivo do mexilhão?
Com o desconche manual, tal qual se dá ainda hoje, temos de conviver com um velho problema: o marisco quando engorda, engorda para todos. Nesses períodos, a oferta de matéria prima é muito grande e não damos conta de comprar e desconchar tudo o que nos oferecem. Com os equipamentos que estamos adquirindo, poderemos receber até 90 toneladas de marisco por dia. Ainda que a oferta de matéria prima se afunile nos períodos de marisco gordo, daremos conta de processar toda a produção disponível. Com isso, o maricultor poderá esperar o melhor momento para vender a sua safra, sem risco de ficar com ela encalhada. O produto final custará muito menos, posto que renderá mais. E a cadeia produtiva ficará livre das rupturas de entressafra.

3) A empresa pretende se tornar autossuficiente em matéria prima e deixar de comprar a produção dos demais maricultores?
Não trabalhamos com essa hipótese. Esse é um viés politicamente incorreto e economicamente insustentável. Precisamos de um setor de maricultura forte. Por isso é que superdimensionamos a capacidade de nossas maquinas de processamento na indústria, de modo a poder processar toda a matéria prima disponível pelos produtores locais, além daquilo que a empresa produzir em suas fazendas marinhas próprias. Não inventaremos nada. Esse processo ocorreu nos demais países onde a atividade artesanal foi aos poucos sendo substituída pela produção em escala, e os pequenos produtores inseridos gradativamente na nova formatação de cadeia produtiva.

4) Os demais produtores então não tem motivos para se preocupar?
Não é bem assim. Temos, todos, pelo menos um grande motivo com o qual nos preocupar: os produtores chilenos. O governo do Chile está fazendo enorme esforço de marketing para aumentar a venda de marisco para brasileiros, como publicado pela Seafood. Brasil O programa Patagônia Mussel, iniciativa conjunta do ProChile e da AmiChile desembarcou aqui com o objetivo de aumentar as exportações para o Brasil, das atuais 500 toneladas/ano para 2 mil toneladas de produto final em 2014. Isso corresponde a 12 mil toneladas de matéria prima, praticamente a produção brasileira. Se considerarmos que cada bago de mexilhão a mais que vier de lá corresponderá a um a menos produzido por nós, fica muito fácil entender a importância do projeto de inserção tecnológica na cadeia produtiva do mexilhão, posta em curso pela Cavalo Marinho. O que temos a nosso favor? Nosso marisco é maior, mais saboroso e colorido. Preferido pelo consumidor brasileiro, para quem o marisco chileno é muito pequeno, sem cor e de sabor demasiadamente fraco. Mas não podemos perder tempo além do que já deixamos de aproveitar. É hora de correr!

5) E qual será o destino dos desconchadores informais (ou clandestinos) brasileiros, que sabidamente abocanham enorme parcela do mercado interno de marisco?
Esses precisam ser apoiados e inseridos na cadeia produtiva formal. Eu os tenho procurado pessoalmente, conversado sobre o nosso projeto e dito que teremos o melhor e mais barato mexilhão do Brasil, e que eles poderão comprar nosso produto sifado, legal, para atender a sua clientela de muitos anos. Não nos cabe outra conduta. Eles não são maus por serem ilegais ou informais. São trabalhadores como nós. Apenas trilharam um caminho, digamos, transversal, para produzir, comercializar e sobreviver de seu trabalho da forma como o roteiro de vida de cada um permitiu. Temos de inseri-los, em vez de pelejar contra eles. Há um ou outro que não mereça esse olhar? Ora, isso haverá em toda parte, inclusive entre nós, empresários formalizados. Uma coisa, entretanto é certa: apoiar não significa ser condescendente. Quem optar por continuar com a velha prática de produzir e comercializar ilegalmente, estará fadado ao insucesso. Por um motivo muito simples: o marisco legal, cultivado e processado mecanicamente, com SIF, rastreabilidade, monitoramento da qualidade da água de cultivo e testes laboratoriais que assegurem garantia de qualidade da carne, custará menos que o marisco ilegal produzido manualmente. Fora isso, os órgãos de fiscalização governamental estão se preparando para jogar pesado com quem não se adequar...

6) Quantos hectares para área adicional de cultivo o Senhor está buscando para a empresa?
Estamos com 15 hectares cultivados e, em estágio adiantado de legalização, mais 40 hectares. Mas buscamos área adicional de 300ha. Espaço suficiente triplicar a produção brasileira e nos tornarmos um dos 10 maiores produtores mundiais.

7) Para finalizar, onde o senhor pretende vender tanto marisco?
Nosso objetivo inicial é substituir o produto importado pelo nacional. Independentemente disso, falta marisco atualmente no Brasil. E o consumo per capita sobe anualmente. Ainda assim, enquanto em alguns países esse consumo chega a 12kg/ano, em nosso país chegou agora a míseras 100g/ano. O motivo dessa tímida cifra é o preço elevado ao consumidor, puxado pelo alto custo decorrente do cultivo e do processamento industrial feitos manualmente. Daí a importância do nosso projeto de investir em tecnologia para mecanizar a fazenda marinha e o processamento na planta, diminuir o custo produtivo, baixar o preço de venda e aumentar o consumo per capita do produto em nosso país. Em complemento, vem, claro, a exportação. A demanda mundial por mexilhão não para de crescer. Eleva-se a ordem de 5% ao ano, enquanto a produção mundial estagnou. 50% da produção de nossa empresa deverá se destinar ao mercado externo. O caminho é longo? Sim. Mas nada mais estimulante do que vislumbrar um caminho a percorrer quando se tem energia e pernas para caminhar.

automatização, desconche, investimento, maquinário, maricultura, mexilhão

 
publicidade 980x90 bares
 

Notícias do Pescado

 

 

 
SeafoodBrasil 2019(c) todos os direitos reservados. Desenvolvido por BR3