Conserveiras podem utilizar aquicultura para novos produtos, diz especialista

Conserveiras podem utilizar aquicultura para novos produtos, diz especialista

11 de fevereiro de 2014

Crédito da imagem: jules:stonesoup

Por Mariana Diello

A indústria brasileira de conservas de pescado pode utilizar os produtos da aquicultura na complementação de sua produção, hoje baseada em atuns e sardinhas oriundas da pesca extrativa. Esta é a visão do coordenador do Comitê da Indústria de Conservas da Associação Brasileira da Indústria de Alimentação (Abia), Abraão Oliveira. A entidade representa 98% da indústria de conservas, composta por empresas como a Gomes da Costa, Grupo Camil, Crusoé Foods, Conservas Rubi e Piracema.

Oliveira avalia que, no futuro, pode-se usar o peixe de aquicultura para gerar a oferta necessária para a indústria de conservas. “O único impedimento para o fornecimento do peixe de cultivo é a escala de produção. Nos últimos anos, a indústria de conservas brasileira vem se desenvolvendo bastante, mas as oscilações na pesca e os períodos de defeso criam espaços produtivos importantes que poderiam ser suprimidos com produtos aquícolas”. Esse movimento já se nota em parte das empresas associados. Na última edição da revista Seafood Brasil (leia aqui), abordamos o investimento da Gomes da Costa em tilápia, como opção aos tradicionais atum e sardinha. Além disso, as Conservas Rubi já têm rótulo de filé de tilápia em conservas.

A maior limitação para a viabilidade industrial da aquicultura em conservas é a escala de produção. As fábricas operam com volumes considerados grandes para a aquicultura. “Precisaríamos de 30 toneladas de filé pronto por dia para viabilizar uma operação industrial como esta”, relata Oliveira. Além disso, os preços do filé de tilápia ainda praticados no mercado brasileiro tornam o produto final muito caro. “Obviamente que a viabilização desta operação envolveria uma coordenação diferenciada entre indústrias e produtores. Outro produto que poderia ser utilizado seria a Carne Mecanicamente Separada (CMS).

A busca de alternativas para gerar a oferta necessária de pescado é uma das linhas de trabalho do comitê, que existe desde 2009 de maneira informal e, a partir de 2011, associou-se à Abia, depois de um convite de seu presidente, Edmundo Klotz. Isso ajudou o comitê a ter uma infraestrutura melhor e a impulsionar seu trabalho, que tem como orientação a vigilância comercial, regulação de concorrência de importados e mediação do diálogo entre empresas e o governo.

Outra pauta de rotina é colocar em prática medidas como a aprovação recente de uma resolução (Camex 125/2013) que reduz a tarifa de importação de matéria-prima congelada de 10% para 2%. Isso é uma redução temporária, para abastecer a indústria, que durante o defeso não tem matéria-prima disponível em território brasileiro e precisa importar. São 30 mil toneladas até 30 de abril de 2014.

Em entrevista ao Seafood Brasil, Abraão Oliveira disse que a intenção é continuar ajudando a cadeia produtiva, promovendo um debate mais integrado, desde os pescadores até as grandes indústrias, passando pelo consumidor. “Duas reuniões já foram feitas sobre o assunto: uma em novembro e outra em dezembro de 2013. Uma nova reunião, a primeira do ano, está marcada para abril de 2014”, relata Oliveira.

Importação e exportação

Abraão também comentou sobre o comércio exterior de pescado. A valorização do dólar incentiva a importação, embora estejamos envolvidos em um mercado global muito competitivo, mas o Brasil pode ser uma boa alternativa. Apesar de a escala de produção ser menor, ainda existe muito mercado para as indústrias locais, que ainda se beneficiam com alíquotas de importação diferenciadas. “As indústrias brasileiras, além de importarem matéria prima, também pretendem aumentar sua exportação de produto já com valor agregado, como as conservas, o foco e o mercado para o Brasil seria o Mercosul”, diz Oliveira.

De acordo com Oliveira, as capturas de sardinhas e atuns no Brasil são realizadas de maneira sustentáveis respeitando as legislações vigentes. Os volumes da captura de sardinha no Brasil têm crescido de 62 para 92 mil toneladas nos últimos 3 anos. ”Vamos precisar observar mais alguns anos o comportamento das pescarias para ratificar a sustentabilidade do modelo brasileiro de gestão pesqueira para a espécie.”

Na avaliação do especialista, resoluções como a (Comex 125/2013) são importantes pois permitem que a indústria permaneça produzindo, sem riscos de desabastecimento e sem aumentar o preço das conservas para o consumidor final durante as entre safras. O período de defeso equivale a mais de 4 meses sem capturas nacionais de sardinha. É quando as conserveiras importam de grandes fornecedores globais como Tailândia, Marrocos, Equador e Peru.

Quanto às exportações brasileira de conservas de pescado, os patamares já chegaram à casa de 7 mil toneladas em 2009, equivalentes a US$ 25 milhões, com vendas para 47 países do mundo. Já em 2013 foram 4 mil toneladas, com receitas da ordem de US$ 17 milhões, considerando todos os produtos oriundos de conservas de pescado.

 

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