Fenacam 2015: primeiro dia tem cobranças ao Mapa e premiação

Fenacam 2015: primeiro dia tem cobranças ao Mapa e premiação

Começa a se formar um debate entre tanque escavado x tanques-rede em águas da União; estrangeiro aponta ineficiência da carcinicultura brasileira

18 de novembro de 2015

por Ricardo Torres, direto de Fortaleza (CE)

A abertura da 12ª Fenacam, nesta terça-feira (17/11), esteve longe de ser uma mera formalidade. Discursos de autoridades nacionais e estrangeiras tocaram em pontos-chave da aquicultura nacional, como a desoneração de impostos para a produção, os gargalos da comercialização, o modelo de produção de camarão no Brasil e a continuidade da gestão institucional dos pleitos do setor - agora sob o controle do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Itamar Rocha, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Camarão (ABCC), fez os agradecimentos de praxe a todos os parceiros, mas logo incorporou seu lado crítico e jogou os holofotes sobre o potencial desperdiçado da aquicultura no Brasil. "O Brasil continua com um déficit de US$ 1,5 bilhão na balança comercial de pescado e o mundo precisa de mais produtos da aquicultura. No entanto, não estamos fazendo nada para mudar o cenário. O Brasil não exporta nada, estamos ficando para trás", disse.

Um dia antes, Rocha já havia criticado na abertura do coquetel que inaugurou a feira o pouco aproveitamento que se faz da soja, principal ingrediente das rações para aquicultura. "O farelo de soja é exportado a 0,30 centavos de dólar, mas como ração poderia ser exportado a 4 dólares o quilo."

Cristiano Peixoto Maia, presidente da Associação Cearense de Carcinicultores (ACCC), confirmou a expectativa de que o Ceará feche o ano com 50 mil toneladas produzidas de camarão, apesar dos percalços. "Agora a nossa meta é dobrar de novo em cinco anos. Para isso precisamos de união entre o governo e o setor produtivo. Aqui existe essa integração, que não acontece em outros Estados do Nordeste", disse. Ele aproveitou para cobrar uma maior aproximação da universidade do campo, "para quem lá está aprender a produzir com mais qualidade", e também criticou a incidência de impostos em toda a cadeia produtiva do camarão. "Quem está no campo não tem que pagar impostos para produzir alimentos. Queremos isentar o PIS e Cofins na cadeia toda, na ração, no pós-larva, na energia etc".

Kátia Abreu: "Uma aluna muito aplicada"

A nova posição do Mapa como ponto de referência para as demandas do setor continua a mobilizar as discussões do setor. Para tentar conter a apreensão, o provável representante da aquicultura e pesca dentro do Mapa, Eduardo Ono, garantiu que a ministra, Kátia Abreu, pretende conhecer mais a fundo o segmento. "Ela quer receber o setor para 'ter uma aula'. Eu a conheço há muito tempo, ela é uma aluna muito aplicada. Ela tem um grande interesse de ouvir o interesse e as propostas do setor." A ministra irá se reunir com diversas entidades do segmento no próximo dia 25 de novembro, em Brasília.

Nos corredores da feira, fontes disseram à Seafood Brasil temer que a ministra já tenha um plano de fomentar apenas a aquicultura em tanques escavados, deixando de lado o cultivo com tanques-rede em águas públicas da União. Em seu discurso na abertura do primeiro dia da feira, o ex-secretário de Planejamento e Ordenamento da Aquicultura do MPA, Felipe Matias, tocou no mesmo ponto. "Virar as costas para o cultivo em águas da União seria um erro crasso", sublinhou. "Lamentamos que tenha sido necessário acabar com o MPA. Então agora vamos ajudar o Mapa a desenvolver a aquicultura. As nossas lutas e brigas teremos sempre, mas a luta mais inteligente é trabalhar junto", disse.

Em seu pronunciamento, Ono não comentou a questão. O foco da apresentação foi nas deficiências da cadeia de comercialização do pescado, no qual ele criticou o argumento dos carcinicultores. "Não adianta só desonerar os impostos da ração, cuidar apenas da produção, porque quem alavanca a cadeia produtiva é o consumidor, não estímulo para a produção."

Ele frisou a necessidade de se fomentar a construção de pequenas e médias indústrias para melhorar o processamento do pescado. "Hoje, o nosso pescado é vendido 'com pena'. Vendemos nosso peixe como se fosse o frango de 30 anos atrás. O pescado in natura não tem identidade. O industrializado tem marca, nome e, se tiver qualidade, vai criar credibilidade. Isso com certeza é um fator que reprime demais o consumo de pescado no Brasil." Segundo ele, uma das frentes em que o o Mapa está trabalhando é a simplificação e desburocratização na implantação das indústrias de processamento de pequeno porte.

"Camarão brasileiro é o mais caro do mundo"

Farshad Shishehchian, CEO da Blue Aqua, uma empresa fornecedora de serviços e equipamentos para aquicultura baseada em Singapura e na Tailândia, tocou em pontos sensíveis para a carcinicultura brasileira. O executivo se disse um defensor do modelo de produção intensivo e superintensivo. "Eu discordo totalmente da fazenda extensiva. O Brasil está percebendo agora que os recursos naturais são limitados, por isso é preciso melhorar a eficiência e aumentar a produção por meio de sistemas intensivos."

Ele disse que esse é um dos motivos pelos quais o camarão brasileiro "é o mais caro do mundo". "O camarão aqui custa US$ 3,40 o kg. Se vocês não olharem para a eficiência da produção, fica difícil. O custo de produção é muito caro, a eficiência é muito baixa. A qualidade da pós-larva, a genética do camarão, a nutrição, tudo isso precisa melhorar", diz. Por fim, provocou a plateia: "O Brasil é um mercado muito fechado. Mas se vocês abrirem o mercado, com estes preços, todos vocês estarão fora do negócio".

Os melhores da aquicultura

Na noite da terça-feira, diversas personalidades relacionadas à aquicultura no Ceará receberam o Troféu Estrela do Mar 2015, como reconhecimento por suas contribuições no segmento. Para esta segunda edição do prêmio, o Comitê de Premiação elegeu Camilo Sobreira de Santana (Governador do Estado), Expedito Ferreira da Costa (Grupo Compescal), Alberto Jorge Pinto Nunes (Labomar/UFC), Hélio de Castro Holanda Filho (Revesa) e Santana Júnior (Poli Nutri Nutrição Animal). Severino Ramalho Neto (Mercadinhos São Luiz) e Ana Teresa Barbosa de Carvalho (Prefeita de Jaguaruana) receberam menção honrosa.

ABCC, ACCC, aquicultura, carcinicultura, Eduardo Ono, Felipe Matias, Fenacam, Itamar Rocha, Mapa, MPA

 
publicidade 980x90 bares
 

Notícias do Pescado

 

 

 
SeafoodBrasil 2019(c) todos os direitos reservados. Desenvolvido por BR3