Inovação é um ato irresponsável de coragem
Aquicultura

Inovação é um ato irresponsável de coragem

Um movimento está alterando a cara do nosso negócio e modificando a maneira de atuação da nossa piscicultura

Francisco Medeiros - 17 de junho de 2019

 
Um dos principais objetivos da Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR) é gerar uma única unidade na piscicultura brasileira, criar um pensamento, uma onda que siga na mesma direção para que juntos, consigamos atender todas as demandas do setor e os mais variados elos, literalmente num “efeito cardume”.
 
Quando olhamos para a piscicultura atualmente como um todo, sempre enxergamos as mesmas imagens, vemos somente os grandes e destacados centros da cadeia produtiva e, invariavelmente acabamos por gerar conceitos, previsões e tudo mais a partir deste campo de visão. Existem no Brasil pontos cegos destas imagens, um movimento que está alterando a cara do nosso negócio e modificando a maneira de atuação da nossa piscicultura. Posso corroborar este aspecto através de surpreendentes viagens que realizei neste ano para duas regiões do País - pequenas cidades fora dos "famosos" polos centrais de produção -, menção que fiz no parágrafo anterior deste texto.
 
Uma das cidades foi Morada Nova de Minas (MG), município com pouco mais de 8.000 habitantes e com a economia voltada para a tilapicultura, onde a produção baseia-se, majoritariamente, no Lago de 3 Marias.  Os processadores são cinco frigoríficos de pequeno porte, mas com um conceito muito bem definido sobre o aproveitamento de carcaça em produtos nobres, estando à frente de muitos outros centros de processamento de pescado no País.
 
O mais impressionante da qualidade produtiva de Morada Nova de Minas é que toda esta eficiência é gerada através de conhecimento local daquele município e, das pessoas que ali trabalham com a tilápia. Para esclarecer um pouco mais do que estou falando, após a retirada do filé de tilápia, mais quatro nobres produtos são extraídos, embalados e comercializados no mercado mineiro: contrafilé, pescocinho, tirinha e filé de cabeça, tudo isso é descartado em grande parte do Brasil para fabricação de farinha de peixe, quando não é destinado para compostagem e transformação em adubo.
 
A elaboração destes produtos permite que pequenos frigoríficos no interior de Minas Gerais consigam competir com as grandes empresas do setor. Isso é inovação aqui no Brasil, um ato irresponsável de coragem, sem burocracia, sem a anuência de um colegiado de doutores para direcionar recursos financeiros, sem publicação em revistas internacionais de conceito “A”, e principalmente, sem gastar dinheiro público.
 
O segundo bom momento que vivi foi uma visita ao interior de Santa Catarina, em uma cidade chamada Armazém, na região de Tubarão. O município é reconhecido atualmente como a capital catarinense da tilápia, e um grande exemplo de alta eficiência pude constatar por lá: um produtor conseguiu em um viveiro de 4.000 m² alcançar o impressionante patamar de produção de 40.000 toneladas de tilápia em um ciclo, ou seja, uma produtividade de 100.000 kg de tilápia por hectares, mas não é exclusividade deste produtor, outros tantos na região se equiparam ao excepcional resultado. 
 
Assisti recentemente uma palestra de Mauro Nakata, produtor de São Paulo que em 2018, com apoio da Nuffield e patrocínio do Grupo Bom Futuro, visitou os principais países produtores de peixes do mundo. Ao final de sua palestra, Nakata resumiu em uma única palavra tudo o que ele pode constatar em seu roteiro de viagem: simplicidade. E é exatamente isso que movimenta a piscicultura no mundo. 
 
É importante frisar que isso não significa que devemos nos abster de qualquer pacote tecnológico, de conhecimento científico, pelo contrário, é isso que nos permite ser simples na maneira de trabalhar. Tecnologia é simplificar a nossa vida.
 

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Sobre Francisco Medeiros
 
  • Diretor-presidente da Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR)
 
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