Mistura de oportunismo e crise nos estoques pesqueiros eleva população de cefalópodes

Mistura de oportunismo e crise nos estoques pesqueiros eleva população de cefalópodes

Nas últimas seis décadas, a população de lulas, polvos e calamares aumentou de 500 mil para quase 5 milhões de toneladas

20 de outubro de 2016

Nas últimas seis décadas, a população de lulas, polvos e calamares vem aumentando. Em 1950, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO/ONU), a captura de cefalópodes se situava em 500 mil toneladas, mas em 2014 chegou perto de 5 milhões de toneladas.

Isso não tem a ver apenas com a eficácia da exploração pesqueira, mas cientistas dizem que é um processo relacionado com a depleção global dos estoques de peixes e o oportunismo dos cefalópodes. “Eles ocupam os espaços deixados por outras espécies que sofrem com a sobreexplotação pesqueira”, avalia Ángel Guerra, pesquisador do Conselho Superior de Pesquisas Científicas (CSIC) do Instituto de Pesquisas Marinhas da Espanha (IIM).

Para ele, a mudança climática global nos últimos anos tem papel determinante na migração de espécies e na ocupação destes nichos por estes animais. Mas outros fatores ambientais interferem na situação, como variações locais no sistema de correntes marítimas, poluição de origem urbana por excesso de matéria orgânica, metais, terras e cinzas terrestres e modificação de habitats. “É preciso atuar firmemente contra as fontes antropogênicas de contaminação atmosférica e oceânica. Há cefalópodes que depositam no litoral os ovos, que têm uma membrana suscetível a alguns tipos de contaminantes.”

Ainda assim, o estado dos estoques de cefalópodes nos oceanos é considerado bem controlado. “Os cefalópodes têm crescimento muito rápido, expectativa de vida muito curta. Tudo isso faz com que seja muito interessante porque se adapta às características do meio ambiente”, diz Guerra.

Mas há situações locais com problemas, como no caso do Peru, cuja população de lula gigante (Dosidicus gigas) diminuiu com os efeitos do El Niño mais alongado nos últimos três anos. Em 2014, foram 506 mil toneladas capturadas, contra 463,1 mil e apenas 57,1 mil de janeiro a março. “Trata-se do segundo recurso pesqueiro mais importante do Peru, depois das anchovetas”, sublinha Alejandro Daly, gerente da Associação Nacional das Indústrias.

No caso da Illex argentinus, cuja captura se dá principalmente ao sul da Argentina por barcos locais, chineses, coreanos e espanhois, o volume passou de 1,1 milhão de toneladas para 906 mil toneladas em 2015, segundo estimativas da FAO. Só na Argentina, até setembro de 2016 a captura havia sido de 57,5 mil toneladas, contra 126 mil toneladas de todo o ano passado. Os Hermanos reclamam da presença de barcos ilegais na costa argentina. “A Argentina tem 62 barcos e os estrangeiros têm 260 barcos, principalmente chineses, pescando na mesma região”, contabiliza Juan Redini, presidente da Câmara de Armadores de Poteros Argentinos (Capa). O subsecretário da pesca daquele país, Tomás Gerpe, diz estar em negociação com o governo chinês para aprimorarem o registro dos barcos chineses que pescam na milha 201.

Já no caso do polvo (Octopus vulgaris), a captura cresce a cada ano. Em 2012, foram capturadas 79 mil toneladas em todo o mundo, subindo para 86,2 mil toneladas em 2015. Mas as estatísticas podem estar defasadas, já que só o Marrocos – que lidera essa pesca – calcula ter capturado em torno de 64 mil toneladas, seguido pela Mauritânia, com 34,6 mil.

Os dados foram apresentados no Congresso Mundial de Cefalópodes, organizado pela FAO em 3 de outubro, na cidade de Vigo, Espanha.

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