“Peixe brasileiro tem que ser exportado como produto premium”, diz especialista

“Peixe brasileiro tem que ser exportado como produto premium”, diz especialista

Especialista brasileira que participou de viagem do ministro Maggi à Ásia diz que Brasil tem enormes chances de despontar no exterior

14 de dezembro de 2016

Uma das constatações da delegação brasileira durante viagem de 25 dias do ministro Blairo Maggi à Ásia, em setembro, foi a de que proteína animal de qualidade é exclusividade da elite e classe média em países como a China e a Índia. Extremamente populosos, estes países têm nesses segmentos poder aquisitivo capaz de suportar preços mais altos, adequados a proteínas de alta qualidade.

Única empresa do pescado que acompanhou a missão do ministro, a Biofish vislumbrou imenso potencial para as espécies nativas brasileiras, desde que haja uma estratégia de posicionamento e preço adequada a esses mercados. Veja na entrevista abaixo com Janine Bezerra de Menezes, diretora de marketing e comércio exterior da empresa, as principais conclusões da viagem.

1) Qual é o perfil do consumidor asiático e como isso pode beneficiar as exportações brasileiras de pescado?

Meu ponto de vista da missão é de que existe uma grande necessidade de proteína animal de pescado para Ásia. A questão da segurança alimentar é muito séria ali. Falta proteína, eles servem refeição com cartilagem de porco e de frango com arroz e molho e cobram US$ 10. O público que compra carne nobre e o bom peixe é de poder aquisitivo de classe média e alta para cima. Não duvido que o nosso peixe, uma vez que saia e seja feito este trabalho de geração de demanda, vai cair no gosto e vai agradar sim. Porque eles comem coisas muito inferiores e vendem.

Os mercados asiáticos têm volume muito grande. Qualquer player que senta contigo fala em 10, 15 contêineres apenas para introdução de produto. Isso para segmentar, para vender nos melhores hotéis, restaurantes, supermercados mais gourmets, com produtos mais nobres. A nossa leitura é que o peixe nativo do Brasil seja vendido no mesmo patamar que importamos bacalhau e salmão. Se pegarmos o nosso pescado de água doce para trabalhar com outros peixes de combate, não podemos combater.

E tivemos uma grata surpresa porque foi muito assédio mesmo, na Coreia do Sul, China, Myanmar, Hong Kong, Índia, Malásia, Tailândia e Vietnã. Nós, que estávamos com a proposta do peixe nativo, tivemos agenda cheia, especialmente na China, em Hong Kong e Coréia do Sul, onde identificamos que o preço do pescado é muito alto. Cheguei a ver uma caixa de corvina a US$ 350 em Seul.

[caption id="attachment_8746" align="alignleft" width="706"]2016-12-13-photo-00000051 Caixa com corvinas para presentear em supermercado de Seul: vendida a US$ 350[/caption]

2) Que diferencial nós temos em relação a outros competidores?

Há várias outras agregações de valor na marca Amazônia. Só a Amazônia é que vai poder produzir estas espécies para o mundo inteiro, que hoje tem déficit de 25 milhões de toneladas em alimentos e vai chegar a 100 milhões em 2030.

Mas a preocupação é que ninguém comece esta exportação sem este cuidado. Às vezes o empresário vende aqui a 10 reais e exporta com uma margem muito pequena lá fora, sem raciocinar que poderia vender por 25. Temos que trabalhar de forma inteligente, com formação de preço de exportação e identificação de nichos de mercado.

Nas rodadas de negócio, apresentei cortes para o pirarucu, tambaqui e pintado real dentro de um raciocínio de um valor alto e não tive nenhuma recusa. Se você coloca como um produto premium, alta agregação de valor, qualidade de carne e sabor e sustentabilidade, eles já entendem que é segmento A e B.

3) Quais são os pontos que o governo brasileiro precisa trabalhar para valorizar nossa participação no exterior?

É preciso ter uma estratégia de internacionalização compatível com a oferta e demanda, que sempre vai ser maior do que nossa capacidade de produção.

Precisamos valorizar também a sustentabilidade na Amazônia. Água e peixes são a vocação natural da região e a aquicultura preserva floresta, produz alimento e gera emprego e renda.

Outro ponto é a criação da marca Brasil. O País precisa certificar o pirarucu do Brasil, pintado do Brasil, tambaqui do Brasil. Certificado de origem, como fizeram com o açaí.

Sobre o posicionamento de mercado, o peixe nativo do Brasil tem de ser exportado como produto premium, gourmet. Neste sentido precisamos ter uma formação de preço de exportação inteligente, valorizando todos os pontos favoráveis a este superproduto.

4) Como o ministro Blairo Maggi enxerga o segmento?

Ele sempre fazia a abertura das palestras, apresentava com muita propriedade o potencial do agro em todos os segmentos e falava muito bem sobre o potencial do pescado nativo e o potencial hídrico do Brasil para a produção de peixes.


Teremos um bom problema daqui para frente. Voltamos mais que convencidos que precisamos parar de olhar tanto para essa briga de mercado e baixo consumo no Brasil, porque temos mercados espetaculares para vender o peixe sem muito esforço. Claro que existe todo um trabalho para habilitar o País lá fora e, estando habilitado, o processo pode demorar um ano. Mas o dever de casa é muito grande, pois a nossa cadeia ainda é desestruturada. Precisamos crescer produção com mais qualidade e padronização para ser absorvida por indústrias e estes mercados exteriores.

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