Troca de espécies: consumidor tem percepção de valor do produto sem fraude?

Troca de espécies: consumidor tem percepção de valor do produto sem fraude?

Pergunta permeou as discussões de debate promovido pela Myleus e Instituto Totum sobre o uso de análise de DNA para garantir a origem do pescado

10 de novembro de 2015

A pergunta não ficou sem resposta durante o debate Geração de Valor em Produtos Alimentícios: Como atender às exigências do novo consumidor, organizado pela Myleus Biotecnologia e Instituto Totum nesta terça-feira, 10 de novembro, no auditório do espaço CUBO, em São Paulo (SP).

O primeiro painel abordou justamente esta questão. Roberto Veiga, diretor da Damm, e Meg Felippe, gerente de marcas exclusivas do Grupo Pão de Açúcar (GPA), coincidiram na importância de o varejo e os fornecedores assumirem a responsabilidade de adotar iniciativas para conscientizar o consumidor sobre o valor de produtos isentos de fraude, como a troca de espécies.

Uma das ferramentas é o selo "Está no DNA", que foi apresentado pela Myleus e Totum como um caminho para educar o consumidor de pescado sobre a questão por meio da análise de DNA para comprovar a origem do produto. Mariana de Almeida Prado, da Associação Brasileira dos Criadores de Búfalos (ABCB), apresentou o impacto positivo que a tecnologia teve na seleção de produtores que realmente trabalham com leite de búfala para fazer a mussarela.

"É um produto muito fraudado, pela origem escassa de matéria-prima. Este produto exige um desenvolvimento tecnológico complexo, que torna o produto mais caro", diz Mariana. Segundo ela, o consumidor ainda tem dificuldade de diferenciar a qualidade dos produtos que levam o selo "100% Búfalo". "Entendemos como oportunidade porque o consumidor é muito cru. Temos levado o produto ao varejista para ele informar o consumidor. Buscamos essa parceria com o ponto de venda, para criar a consciência da diferenciação."

O responsável técnico do Eataly e rede St. Marché, Carlos Crepaldi, vê que no exterior o consumidor já está mais habituado a selos de garantia de origem, orgânico e outros temas. "Mas no Brasil o selo também pode ajudar muito. Nas nossas lojas oferecemos a mussarela de búfala feita por nós e isso vai para o nosso restaurante de massas, então não podemos correr o risco de oferecer um produto adulterado ao cliente."

Mas como posicionar este tipo de produto no varejo? Mariana defende que exista um espaço diferenciado para este produto no ponto de venda, enquanto Crepaldi mostra restrições quanto a deixar esta área apenas com produtos mais caros.

Desafio no peixe

Este é justamente o que parece ser o empecilho para emplacar um selo do gênero no pescado. "Hoje temos muito poucas ferramentas para garantir ao consumidor que aquilo tem procedência e garantia. Preciso ter o resguardo comercial e ético de que aquilo que estou vendendo é o que estou entregando", diz Meg, do GPA.

Veiga, da Damm, enxerga na análise de DNA uma ferramenta adequada. "O DNA é uma análise tão precisa que não dá discussão. É ou não é determinada espécie? Esse é o foco." Ele conta que, recentemente, rejeitou um fornecedor português de bacalhau que estava em prospecção depois de descobrir, em uma análise feita pela Myleus, "Fizemos um teste com o bolinho que recebemos de Portugal, deu bacalhau mas deu polaca junto."

Óbvio que estas análises, que ficam em torno de R$ 500 por amostra, encarecem o produto final. Então o desafio é educar o consumidor para esta garantia de origem, o que é uma "faca de dois gumes" para o varejo. "O consumidor não tem, muitas vezes, entendimento completo sobre o que se está querendo comunicar. No caso da Friboi, por exemplo, o termo 'procedência' gerou muita confusão, as pessoas associavam com orgânico, com a limpeza da indústria."

Para Meg, em determinado ponto o mercado amadurece, desde que haja um investimento conjunto dos varejistas com os fornecedores. "Ao mesmo tempo em que preciso conscientizar o consumidor, preciso ter uma postura ética com a concorrência, não posso apontar o dedo se souber que há fraudes e nós não a praticamos".

Roberto ressalvou que a qualificação dos compradores de pescado no varejo também merece reparos, mas a indústria precisa assumir seu papel de esclarecer o consumidor. "Temos um problema com o comprador, que ainda está na dinâmica 'precinho preção'. Quero fazer uso desta ferramenta [a análise de DNA] para explicar porque o meu tem este custo superior", conta.

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