Em meio à retomada de importações do Equador, ABCC discute sanidade
SAP, entidades e acadêmicos se reuniram em dois dias para tratar do tema
23 de maio de 2019
Maio vai terminar com novos dados de importação de camarão equatoriano. Na primeira semana do mês, às vésperas da feira Apas, um contêiner chegou ao Brasil e outro estava programado para a chegada até o fim do mês, o que reanimou os equatorianos e importadores interessados no vannamei daquele país.
Em paralelo, a viagem da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, à Ásia rendeu um encontro com autoridades do Vietnã que condicionaram o incremento das exportações de bovinos e melão à abertura do mercado brasileiro para o camarão vietnamita e outras espécies de pescado, como publicou o site da Globo Rural.
Atenta ao movimento do exterior, a Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC) organizou no fim de abril um seminário com representantes da Coordenação de Organismos Aquáticos do Ministério da Aquicultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e da Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA).
O evento, realizado entre 23 e 24 de abril, teve participação do secretário da Aquicultura e Pesca, Jorge Seif Jr., e reuniu acadêmicos e líderes do setor para falar sobre risco de importação de camarão, especialmente do Equador, e da logística implicada para a emissão de Guia de Transporte Animal (GTA).
A grande novidade foi o compromisso assumido pela SAP de fazer uma revisão da análise de risco de importação de camarões congelados do Equador, junto à SDA, por meio de revisão de informações e referências bibliográficas atualizadas pertinentes. Na ocasião, engenheiros de pesca e professores de universidades regionais apresentaram estudos sobre o tema a presidentes das associações estaduais de carcinicultura da Bahia, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, e mais um grupo de produtores de camarão do RN e da Paraíba.
A secretaria informou que foi uma tentativa de demonstrar por meio de estudos científicos com o histórico de enfermidades na atividade e projetos desenvolvidos, assim como a estratégias de melhoramento genético adotadas pelo setor voltadas hoje para a busca de animais mais resistentes a doenças virais.
Os professores demonstraram sua preocupação quanto às implicações que decorreriam da introdução de animais beneficiados e congelados provenientes do Equador. Os pesquisadores presentes indicaram existir evidências científicas de que a cepa viral de WSSV (vírus da mancha branca) existente no Equador é diferente da cepa viral existente no Brasil, além das possíveis ocorrências de vibrios plamidiais produtores de toxinas que seriam transmissíveis por esse tipo de produto.
Deste modo, o agente não se desnaturaria com o cozimento e nem com o congelamento, ficaria preservado e seria uma ameaça eminente aos cultivos de camarão no Brasil. A secretaria ainda disse que além disso, levantam a hipótese de subnotificação dos doenças por parte do Equador, e seria assim uma ameaça à carcinicultura brasileira.
O país rechaça veementemente esta linha de pesquisa, garantindo que o camarão equatoriano não ofereceria nenhum risco ao setor brasileiro. Em entrevista recente publicada na revista equatoriana Líderes, o presidente da Câmara Nacional de Aquicultores do Equador, José Antonio Camposano, ressaltou que existe grande expectativa, já que o Brasil teria capacidade de adquirir 50% do que compra os Estados Unidos - algo em torno de US$ 200 milhões anuais.
Em entrevista em vídeo concedida exclusivamente para a Seafood Brasil durante a feira de Bruxelas, Camposano reafirmou o interesse no Brasil e tachou novamente a mobilização da carcinicultura brasileira como protecionismo. Veja abaixo:
GTA
A SAP disse ainda em material enviado pela assessoria de imprensa que na mesa redonda foi destacada a importância da GTA. Como o setor tem diversos produtores sem cadastro, e, consequentemente, à margem do sistema de defesa animal, estes enfrentam dificuldades para viabilizar o trânsito regulamentado de animais e matérias-primas por meio da guia.
Como são desconhecidos pelo Serviço Veterinário Oficial (SVO), ficam vulneráveis sanitariamente em caso de ocorrências sanitárias que demandam acompanhamento e apoio dele. Sem fazer parte do sistema de defesa animal, o setor não tem condições de certificação sanitária, incluindo aquela necessária à exportação, disse a SAP.
Crédito da foto: ABCC
Outras demandas
No evento em Natal, a SAP elencou entre as principais demandas levantadas pelos produtores o auxílio na logística de vendas (mais cooperativismo), além de auxiliar os produtores a se profissionalizarem tanto na gestão do empreendimento quanto no licenciamento ambiental.
No segundo dia (24), o assessor assessor especial da ABCC, Itamar Rocha, informou que o grupo participou de uma intensa programação de visitas técnicas organizadas pela ABCC e Associação de Criadores de Camarão do RN (ANCC) no Laboratório de Maturação e Larvicultura do Camarão Marinho L. vannamei, da Empresa Potiporã (Touros); na Fazenda Potiguar (cultivo semi- intensivo do camarão marinho L. vannamei) e na Fazenda Cutia (cultivo intensivo em berçários primários, berçários secundários).
Sobre as principais demandas levantadas, Rocha disse os presidentes das associações desejam que “fosse mantido os preceitos legais que regem a atual legislação brasileira, no tocante as autorizações para as importações de crustáceos, constantes na IN 02, 2018 (SEAP-PR), e a revogação da recente IN 04/2019 (mapa), que de forma equivocada exige a emissão de GTA para o transporte de produtos da pescado, incluído o camarão fresco, recém despescado”.
Conforme o assessor, o ponto mais importante dos encontros, foi “dar ciência” às autoridades e agentes públicos convidados. No primeiro ponto, “a sanidade da carcinicultura, que passa necessariamente pelo rígido controle das importações de crustáceos, extrapola a seara do setor produtivo”. E o segundo “foi a demonstração das oportunidades e viabilidade da carcinicultura marinha para o fortalecimento do setor pesqueiro brasileiro”.
ABCC, carcinicultura, CAT - SDA -Mapa, DSA - SDA - Mapa, Jorge Seif Jr., SAP, SAPE-RN, SDA