ARTIGO | Importamos salmão do Chile com inteligência?
Texto assinado por pesquisadores do Pecege mostra que o caminho pelas importações head on pode estar equivocado
19 de outubro de 2017
por Rafael Simões Coelho Barone e Murilo Guilger*
Uma das principais espécies de pescado importadas pelo mercado nacional é o salmão, proveniente do Chile, tem ainda como seus principais mercados os EUA, Brasil e Japão. No entanto, há uma grande diferença entre o método de processamento do salmão importado pelo Brasil com relação ao salmão originado do Chile para os demais destinos.
Existem diversos cortes padronizados para o salmão, que variam do mais simples denominado H/ON, que significa “Head On” (com cabeça) até mais elaborados que são retiradas as espinhas intramusculares, a pele, aparas de gordura, como é o caso dos Trim D, E e F. Essa padronização é importante para a garantia de qualidade, padrão e comparação entre os produtos de diversas indústrias processadoras. A seguir são apresentados alguns exemplos de cortes padrão para o salmão (Figura 1).
[caption id="attachment_9276" align="aligncenter" width="371"] Figura 1 - Tipos de processamento do salmão no comércio internacional.
Legenda: H/ON: sem vísceras; Trim A, sem espinha dorsal e ventral; Trim C, trimA, sem nadadeiras dorsais, sem gordura ventral e sem espinhas intramusculares; Trim D, trimC, sem aparas do dorso e ventre, retirada de toda gordura e apara da nadadeira caudal; Trim E, trimD sem a pele Trim F, trimE sem a linha de musculatura escura.
Fonte: Adaptado de SalmoNex (2012), Imagens Bom Peixe.[/caption]
Ao observarmos as importações brasileiras, chama atenção que a maior parte do volume importado de salmão é o corte H/ON, enquanto que nos demais países há uma variação entre os cortes Trim C, D e E, mas nenhum volume de H/ON. O preço entre os cortes é muito diferente, sendo o H/ON o mais barato. No entanto, para compararmos os valores entre os cortes é necessário transformarmos o H/ON para o seu peso útil, referente as perdas do processamento.
Essa transformação varia em função do tamanho do animal e do tipo de corte, reduzindo o rendimento à medida que aumenta o nível de processamento (Tabela 1).
[caption id="attachment_9277" align="aligncenter" width="428"] Tabela 1 - Variação do rendimento de carcaça em função do tamanho da matéria prima e do nível de processamento.
Fonte: Adaptado de Leroy (2014)[/caption]
Considerando essas informações de rendimento, o preço do salmão H/ON e do Trim D, que é o principal corte importado pelos EUA, construiu-se um gráfico de variação de preços (Figura 2).
[caption id="attachment_9278" align="aligncenter" width="566"] Figura 2 - Variação de preços do salmão nos cortes H/ON e Trim D entre 2015 e 2017 e o equivalente em preço do rendimento de processamento do H/ON.
Fonte: SalmoNex
Elaboração: Pecege – ESALQ/USP[/caption]
Observa-se que o preço do H/ON se mantém abaixo do Trim D ao longo de todo o período, no entanto, considerando o rendimento de 42,5% observamos que o preço do H/ON se mantém acima do Trim D e, mesmo considerando um rendimento melhor de 55%, que seria o equivalente a um processamento para Trim A, ainda sim, a estratégia de aquisição do H/ON não se mostra viável.
Ressalta-se ainda que essa análise não leva em consideração os custos indiretos do processamento, com relação ao descarte e destinação dos resíduos gerados e também com a eficiência de logística do produto, uma vez que o transporte de H/ON, possui uma eficiência menor comparativamente ao Trim D, uma vez que são transportadas partes do animal que possuem nenhum ou pouco uso comercial (nadadeiras, órgãos da cabeça, ossos e espinhas) ocupando volume útil das caixas de transporte. Caso esses custos fossem estimados, encareceriam ainda mais o valor do H/ON frente ao valor dos outros tipos de corte disponíveis no mercado.
*Rafael Simões Coelho Barone e Murilo Guilger são pesquisadores do Instituto Pecege
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