Carcinicultura nacional: é hora de correr para não perder o bonde
Por Itamar Rocha, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC)*
31 de outubro de 2025
*Artigo escrito para o Anuário Seafood Brasil #60
A carcinicultura marinha brasileira é uma atividade primária que não depende de chuvas e utiliza águas de uso insignificante (teor salino acima de 0,5 partes por mil) para produzir um alimento nobre considerado a estrela da gastronomia mundial de frutos do mar: o camarão marinho. Nós possuímos uma produção contínua que já levou o Brasil a ocupar, em 2003, o 1º lugar na produção (90.190 toneladas) e nas exportações (58.455 toneladas/US$ 226 milhões) de camarão cultivado da América Latina. No entanto, apesar de o País ter voltado a ocupar a 7ª posição entre os principais produtores mundiais, a produção de 2024 (210.000 toneladas), sem nenhuma exportação, está muito aquém do seu potencial.
Esse cenário se torna ainda mais evidente quando comparado ao extraordinário desempenho do Equador. Entre 2003 (78.500 toneladas e exportações de 58.011 toneladas/US$ 321 milhões) e 2024 (1.430.000 toneladas e exportações de 1.215.000 toneladas/US$ 6,1 bilhões), o país vizinho registrou um crescimento impressionante. Caso o Brasil tivesse mantido o mesmo ritmo produtivo, as perdas econômicas comparativas entre 2004 e 2024 seriam da ordem de US$ 40,0 bilhões (R$ 230 bilhões).
Outro exemplo vem da China. Embora seja a maior produtora de camarão marinho - tanto extrativo quanto cultivado -, o país ocupa também o 1º lugar entre os maiores importadores deste produto. O destaque vai para o camarão marinho cultivado: mesmo sendo a 2ª maior produtora mundial, a China passou, a partir de 2023, a se consolidar como a maior importadora, com um volume/valor de 916.597 toneladas/US$ 6,0 bilhões em 2024.
Diante disso, é inaceitável que o Brasil, detentor de condições edafoclimáticas altamente favoráveis para a exploração aquícola — como já demonstrou em 2003, quando liderou mundialmente a produtividade (6.083 kg/ha) —, não esteja ocupando posição de protagonismo na produção e exportação de pescado e de camarão marinho cultivado.
As oportunidades estão dadas. Porém, em função de conflitos ambientais mal conduzidos e da crônica ausência de políticas públicas e apoios financeiros, o País corre novamente o risco de “perder o bonde”. Nesse cenário, até mesmo a África, apesar da falta de infraestrutura básica e de graves problemas sanitários, pode superar as excepcionais vantagens competitivas e comparativas do Brasil e assumir esse papel de destaque.
Ainda assim, acreditamos que é possível reverter o quadro. Para isso, é necessário promover uma verdadeira virada, com políticas de incentivo e estímulo ao aumento da produção nacional de camarão e demais pescado cultivado. Só assim, o Brasil poderá se inserir de forma consistente, tanto no mercado importador de camarão marinho (avaliado em US$ 30 bilhões/ano) quanto no gigantesco mercado mundial de pescado, que atingiu US$ 193 bilhões em 2024.
A história recente comprova a resiliência do setor. Ao longo dos últimos 25 anos, mesmo sem apoio governamental ou financiamento de agentes oficiais, a carcinicultura brasileira alcançou dois feitos notáveis: recuperou sua performance produtiva — que havia caído de 90.190 toneladas em 2003 para 60.000 toneladas em 2016 — e atingiu 210.000 toneladas em 2024. Tudo isso com foco exclusivo no mercado interno, cujo consumo saltou de 20.190 toneladas em 2003 para 210.000 toneladas em 2024.

Este texto faz parte da série de artigos publicados no Anuário Seafood Brasil #60. Para ler este e outros artigos na íntegra presentes nesta edição, clique aqui.
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Créditos imagem: Divulgação/ABCC
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