Consumidor 4.0: a era do shopper sempre conectado
Varejo

Consumidor 4.0: a era do shopper sempre conectado

Perfil, comportamento de compra e as tecnologias em uso pelo consumidor moderno de alimentos foram discutidas na 16ª Semana do Pescado

26 de setembro de 2019

16ª Semana do Pescado chegou ao fim oficialmente no último dia 15, mas as ações da campanha continuam movimentando o setor. Na segunda-feira (23), representantes do varejo se reuniram na sede da Fiesp, em São Paulo, para discutir o perfil, os comportamentos de compra e as tecnologias em uso pelo consumidor moderno de alimentos.
 
No painel I, com mediação do gerente de departamento do Agronegócio da Fiesp, Antonio Carlos Costa, o “novo shopper” esteve no centro do debate.
 
Renato Dolci, especialista em Data Science e transformação digital, apresentou "O impacto social da internet". Segundo ele10 milhões de brasileiros passam a se conectar à internet por ano. Atualmente consumimos mais conteúdo no telefone, 67% da população tem um aparelho celular e 95% têm televisão. Desse tempo conectados, passamos em média ⅓ nas redes sociais com o YouTube liderando a preferência nacional, seguido pelo Facebook e WhatsApp.
 
Para o especialista, os números são representativos porque estamos cada vez mais conectados com maior facilidade e por maior tempo. Esse excesso de conexão gera efeito colateral, ou seja mais dados são gerados sobre o usuário. “Hoje você consegue trabalhar com 250 data points (coletores de dados), e o nível de bateria é um deles, quando cai, muda o padrão de consumo: primeiro diminui-se o consumo de vídeos, depois se diminui o brilho, fala, bloqueia, fala e bloqueia. Bloqueamos o telefone em média por 87 vezes ao dia”, revelou Dolci.
 
 
Este comportamento traz à tona uma nova dinâmica: o consumidor produz informação sobre hábitos e decisões de compra para as marcas. “As pessoas se expõem no ambiente online sem saber necessariamente que são pesquisadas”, sublinhou.
 
Dolci indicou ainda que 89% dos brasileiros conectados pesquisam antes de comprar um produto com a transparência como o principal fator. “Para mim o principal ponto continua sendo a qualidade do produto”, sublinhou. 
 
Outro fator importante é que, hoje em dia, em torno de 40% das pesquisas no mundo são feitas via voz. No Brasil 60% é voz e texto e 
12% já são adeptos aos podcasts - o que mostra um consumidor não alfabetizado, mas também conectado. “Notamos que o usuário está sempre mudando a forma como consome conteúdo. A internet pulverizou a capacidade de buscar estes elementos, mas ainda queremos um produto sensacional, boas experiências e atendimento excelente”, finalizou Dolci.
 
Sobre "O que quer este novo consumidor"Fátima Merlin, especialista em varejo, marketing e comportamento do consumidor falou no encontro. Conforme ela, a tecnologia trouxe um patamar de mudanças enquanto fornecedor, varejo, indústria, comércio no geral. “O acesso à internet faz repensar formas de comunicação, relacionamento, marketing e mídia, ou seja, mudar formas de compras e vendas”, sublinhou.
 
 
Merlin discursou sobre a “shoppercracia”, onde o consumidor e shopper está no centro das decisões. “Ou você entende o cliente e consumidor, ou você fica para trás. Ele está mais racional, mais curioso, mais exigente, mais seletivo e ávido por experiências”.
 
Em estudo realizado com 4 mil consumidores, a especialista revelou alguns atributos relevantes. Um deles é que 75% dos shoppers valorizam experiências diversificadas. Segundo ela, o desafio maior é na jornada antes do consumidor decidir ir às compras, o que fica ainda mais flagrante no pescado. “O primeiro é a jornada de compras que acontece a partir dos tablóides, não encontramos um explicando os diferentes tipos de peixe, como preparar, como incentivar o consumo. O foco ainda é em preço” exemplificou. Para o pescado, Merlin explica que o caminho é contar histórias sobre qualidades, benefícios, origem, momentos de uso, dicas de receitas e harmonizações. 
 
Já a segunda etapa consiste em ações para encontrar o que o consumidor deseja, e é importante facilitar e atrair a atenção para determinado pescado. “Encontrar facilmente o produto e até aquilo que ele não sabia”, disse. As dicas são: estar atento ao melhor lugar para ofertar, o layout com uma iluminação correta, decoração, ambientação e o mix adequado entre os produtos.
 
O último passo contempla ações para inspirar a compra do pescado, acesso às informações relevantes, combinações, dicas e receitas músicas locais e cheio. “Criar vínculos emocionais com o shopper.Têm redes na Alemanha em que você tem o som do mar e cheiro do peixe fresco”.
 
Totens interativos também são uma boa opção, assim como a exposição de material de ponto de venda. Para converter o shopper, a especialista explica que cada categoria tem uma árvore de decisão diferente. “Pensar em momento de maior consumo e o que posso utilizar”, falou. O produto deve estar acessível, visível e disponível para engajar: “80% das nossas decisões dependem de uma exposição adequada”, revelou Merlin.
 
Segundo ela, na era 4.0 o maior desafio é sair do ponto de venda para o ponto de experiência. É preciso pensar em como criar estas oportunidades através do pescado. O básico bem feito é fundamental, assim como educar e treinar os funcionários. "Pessoas cativantes, ineditismo e inovação", completou.
 
Painel II: “Ferramentas Facilitadoras” 
 
 
Com mediação do diretor titular adjunto do Deagro, Roberto Imai, foi a vez do CEO da Bolsa de Criptomoedas de São Paulo (Bomesp), Fernando Barrueco, colocar as "criptomoedas" no debate. Barrueco falou sobre as diferentes moedas digitais no blockchain e sobre empresas começarem a criar seus criptoativos, como a Libra no Facebook. [No caso do Facebook] há mais de 3 bilhões de usuários e de um dia para outro isso pode chegar à metade da população mundial”, disse o especialista.
 
Segundo ele, o blockchain resolveu a questão do pagamento em duplicidade, pois oferece uma chave pública e privada que protegem as informações da transação e asseguram que elas cheguem ao destino sem segurança. Ele procurou estabelecer uma distinção entre as criptomoedas criadas e transacionadas na Bomesp e o bitcoin - criptomoeda mais conhecida no mundo, que não é uma moeda estável, com lastro em ativos tradicionais, como o dólar ou o euro. Para ele, o bitcoin é uma reserva de valor: está para o ouro como a libra está para o dólar. Neste raciocínio, você pode utilizá-lo como um bem, mas trata-se de um ativo não financeiro. 
 
O princípio financeiro da criptomoeda já é aplicado há muito tempo, como comprovam os exemplos de de um vale-pipoca, ficha, Bilhete Único (disponível no sistema de transportes em São Paulo) e Vale Refeição (VR). "Os Correios têm o selo digital e o maior problema deles é o troco, mas e se você recebesse o troco em criptoativos?”, provocou.  
 
A Tuna Coin, criptomoeda criada em 2016 que oferece rastreabilidade dos peixes da água até as prateleiras dos supermercados também foi abordada na palestra. Barrueco analisa que a tecnologia poderá facilitar e muito os processos de dados sobre o atum no País, já que estas seriam enviadas automaticamente e sem possibilidade de fraude à Comissão Internacional para a Conservação dos Atuns do Atlântico (ICCAT), entidade responsável por estabelecer a pesca dos recursos migratórios de alto mar no Oceano Atlântico e do Mar Mediterrâneo. A partr destas informações seria possível discutir o aumento da cota de pesca de atuns e afins para o Brasil.
 
 
Já o palestrante Gerson Ribeiro, Co-Founder e diretor executivo da Vitrio, esclareceu alguns pontos sobre o "Marketing digital", e reforçou as falas anteriores sobre o valor dos dados. Conforme ele, a empresa precisa entender a jornada do cliente, e que tem visto uma aliança drástica no perfil do varejo.
 
Para ele, a empresa precisa ter seus próprios dados sobre comportamento do consumidor. “Dados são disponíveis para todos, porém os seus dados não”, cravou.  É preciso fazer a "lição de casa" e entender o seu público. Números revelam que o digital representa apenas 5% das compras finalizadas no varejo brasileiro, mas o especialista analisa que se contarmos todos os marketplaces chega a 25%. E conclui que 30% das tomadas de decisão foram feitas online, mas esses números devem crescer.
 
No âmbito do pescado não é diferente, a diferença está em usar os dados para entender o consumidor “educá-lo”. “As pessoas perguntam muito para o Google, então é preciso levar esse conhecimento para lá”, falou Ribeiro. 
 
Com a “Data Science - O uso da ciência de dados como ferramentas”, Marcelo Colonno lembrou que as novas tecnologias sempre representaram um desafio para a humanidade. "Vivemos em uma era de crescimento acelerado que requer constantes adaptações", declarou.
 
De acordo com Colonno, os dados hoje são uma commodity, e quem melhor fazer uso deles saberá como as pessoas são. “Os dados são o novo petróleo”, disse Colonno em refer~encia a um artigo publicado na revista The Economist em 2017. A Ciência de Dados busca criar valor para uma operação comercial ou impacto social, na busca por soluções de problemas reais relacionados com empresas e negócios, como a Aquabyte, um case de sucesso da fazenda de salmão norueguesa, que fez uso de dados para desenvolver soluções em aquicultura. 
 
Painel III: "Os novos canais"
 
 
Com mediação de Pedro Henrique Pereira, diretor comercial da Brascod, o segundo painel ofereceu debates sobre os novos canais.  O CEO da Hands Data Driven Mobile Experience, João Carvalho, trouxe os “Smartphones: a compra em trânsito”.
 
Para Carvalho, as maiores empresas do mundo têm como principal característica o controle da demanda. “Essas empresa têm os usuários, dados (para melhor entender o usuário) e ativação (capacidade de aumentar suas audiências). Ele considerou, por exemplo, se as maiores brasileiras B2C tirarem o Google e Facebook dos planejamentos podem perder 80% da geração de valor. Conforme o CEO, quando a empresa fica muito importante ela passa a gerar o conteúdo que quiser.  “A única forma de controlar isso é tentar entender o que está por detrás”, falou.
 
Como a Amazon, que mudou o algoritmo usado nas buscas e prioriza o que ela quer vender, e não mais o que o consumidor busca. Carvalho lebra que essas empresas têm seus usuários (pessoas que interagem com estas plataformas), mas a operadora e o fabricante estão com o celular tanto tempo quanto os aplicativos.
 
Ele também frisou que o uso dos dados é importante para ativação do consumidor. “Todo mundo quer saber como se tornar um player relevante. Geração de demanda é geração de receita”, declarou. E analisa que esse cenário controlado pelos grandes players começa a ser descentralizado: “Há diversas formas e novos projetos com empresas menores, outros players com base e volume interessantes também podem fornecer informações”
 
 
Encerrando as apresentações no painel II, o evangelizador e especialista em análise da mídia da Cortex, Claúdio Luiz Bruno, falou sobre a “Informação para o consumo: Big Data e as novas mídias”. 
 
Bruno informou que existe a percepção de que a comunicação direta substitui a comunicação com a imprensa. Para ele, não podemos tirar a imprensa desta variável onde a recorrência da audiência é chave: “Se você aparece uma vez e nada mais, não adianta”, declarou. 
 
O palestrante frisou a necessidade de levar a pauta do pescado ao cotidiano nacional e citou o Agendamento Temático, conceito oriundo da Teoria da Comunicação pelo qual a imprensa dirige os assuntos que serão repercutidos na sociedade. "As pessoas acham que as redes sociais substituíram a imprensa, o que os dados provam que não é verdade." Ele apresentou cases distintos, do presidente Jair Bolsonaro ao jogador Neymar, que ilustram como as redes sociais capturaram e reverberaram o que a imprensa trouxe dentro das "bolhas sociais" de esquerda, direita, feminismo, fãs de esporte etc.
 
Em pesquisa inédita e exclusiva sobre a visão do setor nas mídias, ele ressaltou que o governo de Jair Bolsonaro têm aumentado a exposição sobre o tema pesca, mas não necessariamente com qualidade da exposição. "As inserções da imprensa são em geral negativas, com relatos de fraudes, apreensões e multas ambientais", ressaltou, recomendando um esforço geral de melhoria da imagem do segmento.

 

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