Estiagem no Sul gera impactos nos preços das rações no mercado
Indústria

Estiagem no Sul gera impactos nos preços das rações no mercado

Seca tem sido avassaladora em Estados como o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e parte do Mato Grosso do Sul

07 de fevereiro de 2022

A estiagem, que acontece desde o final do ano passado, tem afetado diversas áreas do Brasil e causado impactos importantes na agropecuária, especialmente nas lavouras de soja e milho, principais grãos de exportações, e também ingredientes fundamentais para a fabricação de ração para a alimentação animal. Como consequência, os produtores têm sofrido com a alta dos custos no mercado. 
 
Sobre o calor e a seca vistas nos últimos meses, Ariovaldo Zani, CEO do Sindirações, comenta que no final de 2021 havia uma perspectiva de amenidades climáticas e não adversidades, quando comparado a 2020. “Isso gerava em todas as análises, fossem internas , como IBGE e CONAB, ou externas, como a USDA e o Conselho Internacional de Grãos, uma recomposição razoável de estoques de grãos: oleaginosos, milho, trigo, soja, entre outros”, falou.
 
Mas, conforme ele, a condição climática atual tem deixado todos “razoavelmente surpresos”. “Esse efeito que o La Niña tem de alterar substancialmente, ou criar uma diferença razoável entre regiões mais ao norte e outras ao sul, de fato surpreendeu porque a gente vê um excesso de chuva ao mesmo tempo que enfrenta uma seca em outra extremidade”, comenta.
 
A seca tem sido avassaladora em Estados como o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e parte do Mato Grosso do Sul. Nesses locais, impactos foram sentidos na agropecuária de corte e de leite, avicultura, suinocultura, pet food (com fábricas espalhadas na região sul) e também na aquicultura.
 
“São atividades responsáveis pela segurança alimentar e isso acaba interferindo em preços, domésticos principalmente, e traz preocupação por conta das exportações, com prejuízo estimado de mais de 20 bilhões para os agricultores somente no Rio Grande do Sul, como temos acompanhado”, acrescenta Ariovaldo.
 
Como consequência, há impacto na produtividade de milho, da soja e da qualidade da pastagem, que também compõe a alimentação da pecuária de corte extensiva e, também parte das forrageiras, que alimenta os animais semiconfinados.
 
Conforme Ariovaldo, a soja, por exemplo, que tem a primeira colheita, quando comparada com o milho, para a safra 21/22, tinha previsões da CONAB de superar 145 milhões de toneladas. Agora, alguns analistas apontam para pouco mais de 125 milhões de toneladas.
 
Ele lembra que a soja é utilizada para a fabricação de óleo, já o farelo que sobra vai para a fabricação de ração. Com a safra menos produtiva, há impacto nos preços das rações no mercado. “O farelo de soja alcançou preços proibitivos no exercício anterior. Houve um pequeno alívio, mas o patamar alto se mantém e se houver uma piora ou se confirmar essa diminuição no desempenho da safra, certamente vamos ter preços lá em cima outra vez”, contou.
 
O câmbio é outro fator que também gera consequências e acaba influenciando nos preços. "Então se temos uma tendência de alta de preço, aqui no Brasil  fica ainda mais acentuado por causa da desvalorização do Real”, completou  Ariovaldo.
 
Repasse dificultado
Felipe Georges Ambar do Amaral, sócio-diretor da empresa de nutrição animal Ambar Amaral, confirma a alta dos valores dos grãos e na ração. “O milho e a soja subiram em torno de 10% e a ração já teve uma alta no preços este ano de 48%, o que vem dificultando a todos na comercialização do produto final. Ao se tornar um produto mais caro, o produtor não está conseguindo repassar e tendo prejuízo em seu negócio”, contou.
 
A alta dos preços tem feito com que a empresa busque alternativas para driblar os impactos na produção, como investimentos em estrutura de estocagem para conseguir melhorar o volume de compras associado aos melhores preços. “Isso permitirá à empresa maior constância em relação aos seus estoques, principalmente se tratando de grãos como milho e também o farelo de soja”, destaca Felipe.
 
Conforme ele, a formulação das rações acaba sendo ajustada com a inclusão de ingredientes alternativos, que auxilia nesse período e permite aos animais não serem prejudicados com a perda da performance zootécnica.
 
João Manoel Cordeiro Alves, gerente de produtos para Aquicultura da Guabi nutrição e Saúde Animal destaca que, apesar de a seca só acontecer em parte do Brasil, o efeito nos preços é geral, pois são praticados com base nos mercados mais importantes, como Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso. “O preço básico dos ingredientes para ração são de produtos colocados nestas áreas, então o preço para o produtor é este, menos o custo de frete e impostos”, aponta. 
 
De uma maneira geral, ele ressalta a alta dos custos dos ingredientes para criação animal em torno de 50% a 60%. Já o preço das rações, em comparação, subiu um pouco menos porque componentes como mão de obra, energia elétrica e vapor não registraram grandes aumentos.
 
Seca reduz estimativa da produção de soja 
 
Com a expectativa de encontrar as principais regiões produtoras brasileiras em duas situações bem distintas, o Rally da Safra 2022, maior expedição técnica do agronegócio brasileiro, iniciou a avaliação das lavouras em janeiro.
 
Em parte do País, formada pelo Mato Grosso, Rondônia, Norte do Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e o MAPITO-BA,o Rally da Safra 2022 aponta que a soja mantém excelentes condições, porém os produtores temem o risco de que o excesso de dias chuvosos e nublados prejudique o peso e a qualidade dos grãos.
 
Já na metade mais ao Sul do Brasil, a falta de chuva e as altas temperaturas causaram perdas irreversíveis ao potencial produtivo das lavouras no Paraná, Sul do Mato Grosso do Sul, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. 
 
Os problemas foram suficientes para reduzir a estimativa de produção para 134,2 milhões de toneladas, 7% abaixo das projeções pré-plantio, que eram de 144,3 milhões de toneladas. 
 
A área plantada é estimada em 40,7 milhões de hectares – 5% maior que a safra passada. Um aspecto importante: é preciso que volte a chover nessa parte do país para que os problemas não continuem se agravando. A produção atualmente projetada é 2,95 milhões de toneladas inferior à da safra 20/21.
 
“Os problemas climáticos impedem uma terceira safra recorde consecutiva, depois de 19/20 e de 20/21”, diz André Debastiani, coordenador do Rally da Safra. A produtividade média de soja do Brasil para a safra 21/22 é estimada em 55 sacas/hectare, a menor desde a safra 15/16 quando o Brasil registrou 49,3 sacas/hectare.
 
É um início de ano frustrante, diante do bom início da safra. A semeadura foi a mais acelerada da história, superando a de 18/19, puxada pela regularização antecipada das chuvas em importantes regiões produtoras.
 
Boa parte das perdas acumuladas se concentra nas lavouras de soja precoce (semeadas na segunda quinzena de setembro e na primeira de outubro), situadas nos estados afetados pela estiagem. Por isso, as maiores perdas estão no Oeste do Paraná, com redução da estimativa de produtividade média no estado para 45,0 sacas por hectare, 26% abaixo dos resultados da safra anterior.
 
Há perdas significativas também no Rio Grande do Sul, cuja produtividade agora é prevista em 48,0 sacas por hectare, queda de 17% sobre 20/21. A falta de chuva e as altas temperaturas prejudicaram boa parte da soja no período crítico de florescimento, aumentando o abortamento de flores e diminuindo o potencial da safra. 
 
O Mato Grosso do Sul é um caso à parte: a seca na região Sul baixou a estimativa do estado para 48,5 sacas por hectare, 17% inferior à safra anterior, embora as lavouras do Norte estejam em excelentes condições, com possibilidade até de superar o recorde. “Um aspecto importante a considerar é que, em todas as regiões mais afetadas pela estiagem, é preciso que a chuva regularize o quanto antes para evitar que os prejuízos aumentem”, afirma Debastiani.
 
Milho segunda safra
 
A etapa de avaliação do milho segunda safra começará em 15 de maio, com seis equipes – as duas primeiras percorrem o Oeste e o Médio-Norte do Mato Grosso. Outras duas avaliarão lavouras no Sudeste e Leste do Mato Grosso, Norte do Mato Grosso do Sul e a região Sudoeste de Goiás. As últimas equipes visitarão áreas no Sul do Mato Grosso do Sul e Oeste do Paraná.
 
A perspectiva atual é que, devido em boa parte ao plantio acelerado da safra de verão, a segunda safra seja implantada num calendário excelente. A produção prevista é de 94,8 milhões de toneladas, um crescimento de 56% sobre a safra anterior, marcada por uma significativa quebra de safra devido aos problemas climáticos. A área plantada é projetada em 15,7 milhões de hectares, com crescimento de 7% sobre a safra anterior.
 
Mais de 80 mil quilômetros deverão ser percorridos em 11 estados durante a 19ª edição do Rally da Safra. A expectativa é coletar 1600 amostras em campo. Organizada pela Agroconsult, a expedição técnica tem o patrocínio do Banco Santander, FMC, OCP Fertilizantes e Serasa Experian e apoio nacional da Hidrovias do Brasil e Unidas Agro.
 
Créditos: Pixabay
 

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