Formas jovens em ebulição
Investimentos em genética e importação de matrizes querem elevar a produção brasileira de peixes, camarões e mexilhões a outro patamar
28 de dezembro de 2020
A aquicultura brasileira está plantando as sementes para o futuro. A afirmação é literal, já que os dados de alevinos na década e sinalizam uma recuperação da produção de pós-larvas de camarão pós-mancha branca.
De acordo com a mais recente Pesquisa da Pecuária Municipal, do IBGE, a produção de alevinos deu um salto de 64,66% entre 2013 e 2019, enquanto as pós-larvas de camarão mostram estabilidade a partir de 2018. Já as sementes de moluscos caíram 31% em 2019, na comparação com 2013, mas ensaiam uma ligeira recuperação: aumento de 0,44% sobre 2018.
Este ensaio deve ganhar um forte impulso com a chegada de técnicos da Galícia (Espanha) a Cabo Frio (RJ) para montar, a 2,5 quilômetros da Praia do Peró a maior fazenda marinha do Brasil. A iniciativa da Mexilhões Sudeste Brasil (MSB), pretende produzir mexilhões, ostras e coquilles Saint-Jacques no local em uma área com cessão de uso junto à Secretaria de Aquicultura e Pesca do Mapa (SAP/Mapa) por 20 anos. A área estimada para o cultivo é equivalente a 200 hectares, com investimento de R$ 420 milhões e previsão de produzir 35 mil toneladas por ano. Isso equivale ao dobro de toda a produção nacional, concentrada em Santa Catarina.
Camarão: importação ou programas nativos
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, fez a alegria de muitos ao sinalizar apoio à intenção de alguns produtores de importar matrizes de outros países. A posição da ministra é vista como positiva e necessária para Ana Carolina Guerrelhas, sócia-fundadora da Aquatec, em Barra do Cunhaú, Canguaretama (RN). Ela assegura que o Aquatec importaria oficialmente as matrizes, assim como fez pela última vez em 2006.
Ela alerta, no entanto, que a autorização precisa ser simplificada para evitar que entre material genético “de contrabando”, capaz de atender a uma demanda pontual, mas também pode levar ao caos.
Na contramão da ideia, Saulo Guedes, sócio-fundador da Aquasul, laboratório de pós-larvas e náuplios em Nísia Floresta (RN), defende que a decisão irá atender apenas ao anseio de poucos produtores. Há também receio pela possibilidade da importação de doenças que ainda não foram vistas no País, apesar de o governo e os produtores interessados defenderem que os quarentenários evitariam este problema.
Conforme ele, deveria ser desenvolvido esse trabalho aqui no Brasil, para então o passarmos a exportadores de matrizes e não importadores. Ele apostaria em parcerias, como uma público-privada entre o governo e uma instituição, como por exemplo a Embrapa. Outro caminho é a facilitação do acesso aos financiamentos, mas que atualmente ainda esbarram na burocracia.”Para fazer aqui um trabalho de genética em que a gente possa desenvolver nossas matrizes, precisaria do aporte, do apoio do governo federal. “Então, eu acredito que seria uma linnhagem melhor paro o Brasil e já adaptada às nossas condições e, principalmente, com restrição às novas doenças”
Entre os maiores interessados na importação de animais de desempenho, o diretor da Camanor, Werner Jost, afasta as possibilidades de importação de doenças. A empresa construiu um quarentenário, aprovado pelo Ministério da Agricultura, que se tornou o único do gênero aprovado para camarão no Nordeste do Brasil, segundo Jost. “Há fornecedores de matrizes nos EUA e na Tailândia, mas no nosso entender a melhor genética é da empresa CP Foods, da Tailândia”.
Não à toa, a CP Foods é dona de 40% da Camanor desde abril de 2018. “Ela investe há 20 anos milhões de dólares por ano para montar o programa deles. Os fornecedores norte-americanos usam, na grande maioria, cópias das larvas da CP Foods.”
Confira a continuação da matéria "FORMAS JOVENS EM EBULIÇÃO" na Seafood Brasil #36 que está disponível aqui.
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