Malacocultura nordestina ganha impulso com pesquisa e inovação
Práticas sustentáveis e garantia da qualidade dos produtos também fazem parte da linha de ações da Embrapa Tabuleiros Costeiros
15 de janeiro de 2024
Pesquisas, inovação, práticas sustentáveis e garantia da qualidade dos produtos são aspectos importantes para o crescimento sustentável da malacocultura no Nordeste e fazem parte da linha de ações da Embrapa Tabuleiros Costeiros.
A malacocultura refere-se à uma aquicultura específica para moluscos marinhos ou de água doce para a produção de mexilhões, ostras e vieiras. No mundo, a atividade tem crescido nos últimos anos impulsionada pela demanda por pescado e pela busca de alternativas sustentáveis de produção de alimentos.
No Brasil, apesar de diversas regiões costeiras apresentarem condições para o cultivo de moluscos, o desenvolvimento da produção varia de região para região, dependendo de fatores como pesquisas, infraestrutura, adaptação climática, regulamentações ambientais, mercado consumidor e capacitação dos produtores.
Dados da Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM) divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que, no Brasil, a produção de ostras, vieiras e mexilhões contabilizou 8.739.136 toneladas em 2022. O número significa uma queda de 22% na comparação a 2021, quando somou 11.204.381. No ano passado, a região Sul, com predominância de Santa Catarina, foi a maior responsável pela produção nacional (8.291 toneladas). Por outro lado, o Nordeste ainda tem uma atuação muito tímida no segmento, sendo responsável por apenas 100 kg de toda produção da malacocultura brasileira em 2022.
Em 2018, para impulsionar a produção da maricultura, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) definiu que, das três unidades que atuavam na temática maricultura (Tabuleiros Costeiros, Meio-Norte e Pesca e Aquicultura), a Embrapa Tabuleiros Costeiros concentraria as pesquisas relacionadas à atividade nacional.
Em 2002, foi formada a equipe de maricultura da Embrapa para atender a demanda de produtores da carcinicultura e para realizar a prospecção de espécies nativas com potencial aquícola
Desde então, a Embrapa Tabuleiros Costeiros, com sede em Aracaju, Sergipe, tem desenvolvido projetos no segmento. Atualmente, por exemplo, está em andamento um projeto na malacocultura cujo foco principal é elevar as taxas de crescimento e sobrevivência da ostra nativa Crassostrea gasar em águas estuarinas no Norte e Nordeste.
“Enquanto Santa Catarina desenvolveu todo um sistema de produção apoiado pela Universidade Federal, Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), uma universidade privada e vários pequenos produtores que eram pescadores e se tornaram empresários na região Nordeste continuaram adotando práticas que foram trazidas na década de 1970 e sem adaptação local”, explica o oceanólogo, pesquisador e coordenador do projeto de malacocultura da Embrapa Tabuleiros Costeiros, Jefferson Francisco Alves Legat.
Pesquisador explica que entre outras ações, os projetos da Embrapa têm adaptado estruturas de cultivos e práticas de manejos mais eficientes em águas tropicais brasileiras. Para a produção da malacocultura no Nordeste, o sistema mais tradicional consiste na atuação com as estruturas chamadas de "Método Francês".
Ele é feito próximo ao solo, com as ostras dispostas em travesseiros, sobre estruturas chamadas mesas, camas ou racks. Nelas, as mesas fixas são cobertas pela água durante a maré cheia e ficam expostas ao ar durante a maré baixa, período no qual é possível fazer o povoamento, manejo e despesca das ostras. Mas em áreas tropicais, essa prática pode causar problemas.
Créditos: Seafood Brasil
Para isso, a Embrapa Tabuleiros Costeiros está com o projeto Aquicultura com tecnologia e sustentabilidade – Aquitech. Financiado pelo Sebrae e conduzido no Maranhão, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, o estudo é desenvolvido com várias espécies.
No caso das ostras, visa a avaliação e adaptação de técnicas e tecnologias para a produção da Crassostrea gasar em águas tropicais e já está em fase final de avaliação de custo e com estimativas de lançamento em 2024. "Nesse sistema, os resultados mostraram um aumento de até 76,5% a mais de ostras em tamanho comercial após 10 meses de cultivo do que o método tradicional”, pontua o pesquisador.
Essa estrutura, quando implementada, facilitaria o manejo e ainda permitiria a atuação dos produtores em águas tropicais marinhas mais profundas. Além disso, com instalações possíveis de serem anexas às fazendas de camarão, o produtor poderá atuar com sistema multitrófico.
Em paralelo, ainda atua no projeto OstraNNE (Bases tecnológicas para a produção sustentável de ostras nativas no Norte e Nordeste). Financiado pela Embrapa e conduzido no Pará, Maranhão, Sergipe, ele engloba pesquisa com coleta de sementes e de engorda, maturação de reprodutores, desova, alimentação e mais. Enquanto a Embrapa tem desenvolvido sementes nos laboratórios de malacocultura, ao mesmo tempo, tem realizado teste em um cultivo experimental de ostras em Brejo Grande.
E para alavancar ainda mais as ações no segmento, além dos laboratórios de aquicultura e malacocultura que já estão em operação, a Embrapa Tabuleiros Costeiros tem buscado recursos para a finalização da construção e operacionalização do Laboratório de Pesquisa e Inovação em Maricultura (Lapimar). Quando finalizado, o espaço terá um sistema de recirculação de água para pesquisa e capacitação em piscicultura marinha.
Créditos: Seafood Brasil
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