Mídia está gerando mal-entendidos sobre Covid-19 e alimentos, diz NFI
Varejo

Mídia está gerando mal-entendidos sobre Covid-19 e alimentos, diz NFI

Instituto alerta que manchetes com títulos imprecisos podem impactar inúmeros negócios, como o caso do salmão

05 de outubro de 2020

No mês passado, uma publicação do National Fisheries Institute (NFI) destacou como organizações de saúde em todo o mundo continuam atestando que não há evidências de que alimentos ou embalagens alimentícias estejam associadas à transmissão do novo coronavírus, ainda assim, para o instituto, alguns veículos continuam gerando mal-entendidos entre o vírus e os alimentos.
 
No setor nacional, a pauta ganhou mais relevância nos últimos dias, quando a Administração Geral de Alfândegas da China (GACC) anunciou no final de setembro, que havia suspendido as exportações de pescado da empresa Monteiro Industrial Pescados (leia mais aqui), após um lote de peixe-espada congelado da empresa brasileira enviado ao país testar positivo para a Covid-19. 
 
A suspensão automática chinesa é de uma semana para empresas que apresentem lotes contaminados por uma ou duas vezes. Oito frigoríficos brasileiros já foram alvos de suspensões, como JBS e BRF. Mas, apenas o frigorífico matogrossense Agra, foi reautorizado a vender para a China.
 
Apesar dessas notícias ainda pegarem muita gente de surpresa, o NFI destacou em sua abordagem que “não é novidade que o vírus sobrevive em superfícies”.
 
“Nós continuamos vendo reportagens, notícias e pior ainda, títulos de manchetes que mostram estudos que comprovam que SARS-CoV-2, que causa a Covid-19, pode sobreviver em superfícies, incluindo alimentos. Isso não é uma novidade – como a maioria dos vírus, o novo coronavírus pode sobreviver em diferentes superfícies a diferentes temperaturas por determinados períodos”, destacou a publicação.
 
Mas, o instituto também alerta que manchetes com títulos imprecisos podem impactar inúmeros negócios, como o caso do salmão que virou tema de diversas matérias. Em junho, um novo surto de coronavírus na China tinha tirado a espécie das prateleiras (leia mais aqui). O surto esteve ligado ao principal mercado atacadista de Pequim (Xinfadi), e mobilizou o noticiário sobre a doença. Na ocasião, o Undercurrent News mostrou como a aduana chinesa estava detendo cargas de salmão para testes de verificação da presença de Covid-19.
 
Na coleta de amostras no mercado de Xinfadi foi detectado coronavírus em uma tábua usada para cortar salmão importado. O fato alarmou a população local e tirou de circulação o salmão de diversos canais de comercialização, como supermercados, restaurantes e até o portal de comércio eletrônico AliBaba.
 
Entretanto, epidemiologistas e outros especialistas em saúde pública na China descartaram a possibilidade de que o salmão pudesse ser portador da doença, já que em seu hábitat natural os peixes não são vetores de transmissão a humanos, como asseguraram o Global Times e, mais enfaticamente, o China Daily.
 
O problema pode ter ocorrido na manipulação na indústria ou no próprio mercado. Enquanto ainda não há testes conclusivos, especialistas não recomendam o consumo do peixe na forma crua, como revelou o Sputnik News.
 
Em setembro, inúmeros veículos reportaram novamente sobre o assunto, que veio acompanhado de uma pesquisa realizada na China sobre a descoberta de que o novo coronavírus pode sobreviver até 8 dias em um salmão mantido a 4°C. Entretanto, como destacaram as agências de notícias, até o momento o estudo não havia sido publicado, nem revisado pelos pares.
 
Para o NFI, o fato da SARS-Cov-2 sobreviver no salmão refrigerado não significa que o salmão é um transmissor do coronavírus. Conforme ele, o estudo poderia ter sido realizado a partir da análise da sobrevivência do vírus em diversas superfícies, como uma sacola plástica, um grão de arroz, ou até em um sapato. “Novamente, não é novidade que o vírus sobrevive em superfícies que estejam em determinadas condições de ambiente”, comentou.
 
A publicação também reforça a falta de evidência de que a sobrevivência do vírus em superfícies de alimentos, por exemplo o salmão nesse caso, possa transmitir o vírus para alguém que coma ou apenas manuseie o alimento. “Ainda assim, manchetes como a publicada na agência Bloomberg com o título “Salmon May Harbor Infectious Coronavirus For a Week, Study Shows“, sugere aos leitores, principalmente para aqueles que apenas batem o olho e não leem a matéria inteira, que de alguma forma o salmão é o único com possibilidade de transmitir o vírus, o que não é verdade”, pontuou.
 
O NFI ainda usa uma afirmação da Food and Drug Administration (FDA): “Diferentemente de vírus gastrointestinais transmitidos a partir da alimentação, como Norovírus e Hepatite A, que são obtidas através da ingestão de alimentos contaminados, a SARS-Cov-2 é um vírus que gera problemas respiratórios, e não gastrointestinais, de forma que não há comprovação de que possa haver a transmissão de origem alimentar”.
 
Para o NFI, alguns repórteres procurando por uma manchete "impactante e assustadora", repetidamente falham ao não citar as inúmeras organizações de segurança alimentar reconhecidas que também explicam como as superfícies dos alimentos e das embalagens podem ser hospitaleiras para um vírus, mas não perpetuar a infecção.
 
O texto do NFI ainda traz alguns exemplos publicações sobre a segurança alimentar e a contaminação pela Covid-19, como da Comissão Internacional de Especificações Microbiológicas para Alimentos, texto de Frank Yiannas, vice-comissário de Política Alimentar e Resposta da Food & Drug Administration dos EUA e uma matéria do Reuters com chefe do programa de emergências da OMS, Mike Ryan.
 
 
Creditos da imagem: Pixabay

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