O caminho do revés: como o pedido de RJ da GeneSeas mexeu com o setor
Aquicultura

O caminho do revés: como o pedido de RJ da GeneSeas mexeu com o setor

Pedido de RJ dá fôlego para renegociar dívidas de R$ 330 milhões e buscar novos sócios

05 de setembro de 2023

Caldo de fatores externos e internos fez a GeneSeas sucumbir e decretar Recuperação Judicial (RJ), mas o plano dá fôlego para renegociar dívidas de R$ 330 milhões e buscar novos sócios. Saiba mais na reportagem de capa da Seafood Brasil #49 que pode ser lida integralmente no link disponível no final deste texto.
 
A reportagem que você vai ler a seguir não tem a participação do sócio fundador da GeneSeas, Tito Lívio Capobianco Jr. Em janeiro de 2023, mais de duas décadas depois de ter começado o negócio ao lado de Nelson Cury em Promissão (SP), ele saiu definitivamente da sociedade com a venda de suas cotas pelo valor simbólico de R$ 1. Foi sua segunda venda - a primeira, por R$ 25 milhões, ocorreu em 2015, quando o fundo de capital privado Aqua Capital assumiu o controle do negócio. 
 
No ano seguinte à venda, quatro conquistas importantes: certificação BAP, inauguração do frigorífico em Aparecida do Taboado (MS) para 20 mil toneladas/ano, a aquisição da Dell Mare e a entrada em operação da fábrica de rações Aquafeed para 60 mil toneladas/ano. Depois de assumir a liderança nacional em exportação de filés frescos aos EUA, em 2017, projetou aumento de volumes de abate diário de 50 toneladas/dia para 90 toneladas/dia.
 
Na água, a capacidade produtiva das outorgas concedidas chegava à marca de 36 mil toneladas/ano.A segunda década de vida da empresa terminou de maneira bastante promissora, com a aquisição da distribuidora norte-americana Tropical. Tanta notícia boa trouxe o fundador de volta por meio da recompra de ações. “O Tito estava bastante entusiasmado com o negócio. Se ele não confiasse [no plano de expansão], por que então iria querer recomprar?”, pondera Roberto Imai, presidente do Sindicato das Indústrias da Pesca no Estado de São Paulo (Sipesp) e amigo do empresário.
 
O plano do fundo era tão claro quanto ambicioso: internamente, ganhar escalabilidade e melhorar a eficiência na produção e no frigorífico; do ponto de vista externo, liderar o mercado norte-americano entre os fornecedores globais de filé de tilápia fresco com forte presença no food service, consolidar as já tradicionais marcas do grupo no grande varejo nacional, fazer frente à expansão das cooperativas paranaenses e preparar a venda do grupo a um grande player da proteína animal. O custo da alavancagem do negócio era alto, mas os ganhos pareciam superar os riscos calculados pelos executivos que o Aqua Capital colocou no negócio.
 
Aos poucos, no entanto, o plano começou a desmoronar.
 
As razões
 
Em meados dos anos 2000, a atividade atraiu diversos novos entrantes. Muitos, inspirados pelo próprio modelo da GeneSeas e pela imagem de que a produção de peixe podia ser extremamente rentável, iniciaram a produção sem sequer saber onde as venderiam. Na virada da década, grandes empreendimentos foram anunciados, como foi o caso da Zippy e da Royal Fish, e as cooperativas paranaenses Copacol e C.Vale começaram a construir um consistente modelo de integração para o peixe em viveiro escavado que cativou diversos produtores oriundos de outras culturas.
 
O volume produtivo não parou de crescer. Desde que começou a divulgar dados de produção, em 2014, a Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR) calcula uma evolução de 48,6% na tilápia até chegarmos às 550,4 mil toneladas de 2022. Mas os efeitos desta expansão chegaram rapidamente. 
 
Em 2019, os preços ficaram abaixo da remuneração mínima e deixaram claro que não havia espaço para todos. “Existia essa pecha de que o setor era muito rentável e não era à toa, porque o mercado era muito menos consolidado. Mas o ciclo é nítido: começa a haver margem, muita gente nova entra e os produtores estabelecidos aumentam o alojamento de forma jovem. Isso se reflete em uma super oferta, os preços começam a cair e chegam abaixo do custo de produção. Aí começa a filtrar os que ficam e muitos começam a sair”, descreve Felipe Junqueira, sócio diretor da BTJ Aqua.
 
Na mesma época, as cooperativas entraram com preços mais agressivos no varejo para aumentar a fatia de participação nos congelados, o que motivou empresas como a GeneSeas a operarem no mesmo patamar. “No final de 2018, a linha [de preços] despenca como um avião e aí a empresa teve de praticar precificação, porque tinha presença em todos os varejos grandes e regionais do País”, diz uma fonte com conhecimento do assunto.
 
A política mudou logo na sequência, mas provavelmente vem desta época a visão de concorrentes de que a GeneSeas praticava preços abaixo do custo de produção, o que a empresa refuta de forma categórica. 
 
Segundo a Demonstração de Resultados do Exercício (DRE), o lucro bruto das vendas aumentou 19,1% em 2019. As cifras constam de um dos relatórios da Alvarez & Marsal, consultoria nomeada como administradora judicial do processo de Recuperação Judicial (RJ). 
 
O documento a que a Seafood Brasil teve acesso e a conversa com uma fonte com conhecimento do assunto mostra que a operação foi muito mais afetada por fatores externos que surpreenderam a empresa em um momento de forte expansão de investimentos para suportar o ciclo de expansão. 
 
A sequência de acontecimentos foi impiedosa. Em 2020, a pandemia de Covid-19 demoliu os planos de expansão no mercado externo, dobrando o custo do frete aos EUA e estrangulando o food service. No mercado interno, a empresa não conseguiu repassar os custos e manteve uma precificação no limite do resultado para manter os volumes.
 
Os combustíveis também subiram em toda a conjuntura disruptiva e elevou consigo os preços dos grãos. Ainda assim, em função da carona da tilápia na expansão do consumo de produtos saudáveis no varejo brasileiro, o lucro bruto com as vendas aumentou 49%.
 
Em 2020, o EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização - indicador muito usado para medir o resultado de empresas investidas) foi 4,1% maior que em 2019 - que havia caído 12,1% ante o ano anterior. Com a execução do que estava previsto no plano mesmo com a pandemia, os resultados operacionais deram mais tranquilidade para o início de 2021. 
 
Só que o caldo de problemas persistia, com um agravante: o ano começou com a taxa básica de juros da economia em 2%; em dezembro, a Selic já havia chegado a 9,25%. Resultado: a GeneSeas Aquacultura registrou em 2021 seu maior grau de alavancagem, totalizando 41,9 vezes o EBITDA ajustado.
 
Nesta época, os resultados não eram públicos e o que mais se falava sobre a GeneSeas era a possibilidade de ser vendida para a JBS, que havia entrado de cabeça no segmento a partir do lançamento de uma ampla linha de pescado com a marca Seara. De fato, houve avanço nas negociações, mas as partes não chegaram a um consenso sobre o valuation - grosso modo, uma avaliação do desempenho financeiro da empresa e o retorno a partir de um determinado investimento.
 
No segundo semestre de 2021, novas externalidades não planejadas: o Brasil começa a sentir os efeitos daquela que seria a pior crise hídrica do Brasil em 90 anos. Mesmo com o reposicionamento dos tanques-redes nos reservatórios, as mortalidades começam a aumentar, com o relatório da administradora falando em “perda significativa de biomassa entre 15% e 20%”. Tudo isso desaguou na Páscoa de 2022, com oferta extremamente reduzida. Mesmo com a abertura ao B2B, processando peixe de terceiros, toda a operação da GeneSeas sentiu o duríssimo golpe.
 
A partir de então, ocorre uma sequência de interrupções...
 
Leia a matéria completa na Seafood Brasil #49. Clique aqui.
 
 

 
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