O papel de cada um
Aquicultura

O papel de cada um

Desempenho eficiente de cada um proporciona um ganho coletivo, principalmente para os consumidores, independentemente de sua classe social

Francisco Medeiros - 04 de outubro de 2019

Em minhas viagens pelo Brasil e em especial pelas regiões Norte e Centro-Oeste tenho observado alguns questionamentos comuns, principalmente entre pesquisadores, professores universitários e defensores do meio ambiente, em especial relacionados ao ambiente aquático. Há uma cobrança sobre o porquê do produtor não utilizar na sua produção uma maior diversidade de espécies nativas, pois é unânime a afirmação de que temos mais de 3 mil espécies de peixes e pouco mais de quatro espécies são exploradas economicamente, sem considerar tilápia, carpa e panga, que foram importadas de outros continentes. Aliás, a tilápia já representa quase 60% de tudo o que produzimos no Brasil, com taxa de crescimento superior a 10% ao ano, ocupando a cada dia mais espaço no prato do consumidor brasileiro.
 
O questionamento parece justo e aparentemente de fácil solução para quem nunca dependeu da atividade para sobreviver e ganhar o pão do dia a dia. Quando perguntamos ao produtor por que escolheu determinada espécie de peixe para criar em detrimento às 3 mil existentes, temos uma única resposta: ganhar dinheiro com a piscicultura.
 
Essa é a premissa de qualquer atividade econômica em países capitalistas: trabalhar de forma legal com algo que possa proporcionar renda, lucro e pagar os impostos que mantêm toda a máquina estatal, inclusive pesquisadores, professores e defensores do meio ambiente. O produtor aquícola é um consumidor de produtos e serviços. Ou melhor, bons produtos e bons serviços. E assim funciona nossa sociedade.
 
Estamos comendo arroz há muitos anos no Brasil, e nunca os produtores de arroz foram questionados porque não utilizam as centenas de grãos e tubérculos nativos. Temos um dos melhores times de pesquisadores na área de aquicultura do mundo e nossos trabalhos são  reconhecidos internacionalmente, porém não são direcionados na sua maioria para atender às demandas do setor produtivo, ou seja, quem paga impostos e indiretamente financia as pesquisas. Diante desse ambiente, só resta ao setor produtivo procurar modelos já existentes, que proporcionem maior segurança econômica.
 
O produtor não tem a expertise necessária para pesquisar e estabelecer protocolos de exploração econômica de novas espécies de peixes nativos, e aqui fica nosso pedido para a comunidade científica: gerem pesquisas, tecnologia e conhecimentos que nos permitam produzir novas espécies, para proporcionar ganhos e impostos para gerar mais recursos. É assim que a roda gira.
 
Somos todos parte de um mesmo sistema. O desempenho eficiente de cada um proporciona um ganho coletivo, principalmente para os consumidores, independentemente de sua classe social, oferecendo peixe de qualidade e preço justo, isso é responsabilidade de todos e não somente do produtor.
 

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Sobre Francisco Medeiros
 
  • Diretor-presidente da Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR)
 
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