O Slow Food e sua relação com o pescado
Alimento bom, limpo e justo é o que norteia o movimento
04 de abril de 2022
A alimentação é provavelmente um dos amálgamas sociais mais antigos da humanidade. Estar junto e comer junto são alguns dos principais elementos definidores do Homo sapiens ao longo dos nossos 300 mil anos de existência. Há três décadas, no entanto, uma certa volta às origens explicitou a preocupação em comer devagar, fazer escolhas saudáveis, evitar o desperdício, estar atento à origem do alimento e uma série de outras características em torno da alimentação saudável. Esse caldo deu origem ao Slow Food.
O alimento bom, limpo e justo é o que norteia o movimento, baseado em princípios de que a produção global precisa considerar a capacidade do ambiente de se renovar, bem como a necessidade de que as pessoas vivam juntas em harmonia. Essas características são aplicáveis a todos os alimentos, inclusive ao pescado. E isso deu origem a um derivado desta filosofia: a rede global Slow Fish.
O Slow Food é um movimento global fundado pelo sociólogo e jornalista italiano Carlo Petrini, em 1986, que tinha como um de seus objetivos principais se opor ao fast food e à alta da alimentação industrializada. No entanto, o movimento também traz pontos em
relação à manutenção e salvaguarda de práticas, de saberes, de cultura e também sobre a biodiversidade.
“A gente anda num processo de depredação muito intenso em que se não fizermos mais nada, não olharmos para isso e deixarmos o fluxo seguir como vem sendo, vamos provocar a nossa extinção como espécie”, opina Ligia Meneguello, da Coordenadoria de Programas e Conteúdos da Associação Slow Food do Brasil.
Para ela, o esgotamento dos recursos está em uma velocidade realmente assustadora, cenário esse que ainda é agravado pela crise climática. “O movimento surge como mais um que traz a bandeira das questões ambientais atrelada à produção de alimentos como urgente. E isso é algo que a gente realmente precisa olhar”, reforça.
Atualmente, o Slow Food está presente em mais de 160 países. No Brasil, como destaca Meneguello, movimento começou no Rio de Janeiro, em 2000, para em seguida, ir para São Paulo e por fim, se espalhar por várias outras regiões do País.
Pescado bom, limpo e justo: Slow Fish
O Slow Food em si é composto por diversas vertentes e projetos coletivos, como é o caso do Slow Fish. E como não poderia deixar de ser, nesse pedaço, o pescado é o protagonista.
A bióloga, doutora em oceanografia e professora da Universidade do Estado de Santa Catarina, Patricia Sfair Sunye, explica que o Slow Fish conta com pescadores artesanais, proprietários de peixarias e de restaurantes, cozinheiros, biólogos marinhos, antropólogos, jornalistas, professores, pesquisadores, estudantes, consultores e ambientalistas, além de outras pessoas interessadas.
“Esta variedade de perspectivas enriquece o nível do diálogo que o Slow Fish promove. Ele é dedicado a um futuro melhor para a pesca costeira e de águas continentais, além de ser uma valiosa fonte de informação para qualquer pessoa que queira ampliar seus conhecimentos e compreensão sobre pesca e consumo sustentável”, opina.
Sunye também é membro do Slow Fish Brasil - a campanha foi criada em 2001, durante um evento realizado pelo Slow Food Internacional. E, apesar de inicialmente direcionado às pescarias no Mediterrâneo, o novo movimento se expandiu rapidamente entre os demais elos da rede Slow Food.
Tratando da perspectiva voltada aos recursos pesqueiros e à produção consciente, Ligia Meneguello conta que o Slow Fish traz a proposta de consumo de animais nativos e locais. Na pesca, por exemplo, a campanha ressalta a necessidade de respeitar as técnicas de capturas artesanais, que vão lidar com a sazonalidade, além de questões sociais relacionadas aos pescadores, marisqueiras e outros ofícios da atividade.
Confira a matéria completa em “Na Cozinha”, disponível na Seafood Brasil #42 que pode ser lida aqui.
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