Otólitos: a caixa-preta dos peixes
Pesca

Otólitos: a caixa-preta dos peixes

Otólitos trazem informações preciosas sobre toda a vida dos peixes

Luiz Carlos Matsuda - 10 de setembro de 2019

Os otólitos são estruturas rígidas de carbonato de cálcio e outros minerais, que estão localizados no ouvido interno dos peixes ósseos. Sua função está associada à audição e equilíbrio. Para os cientistas, os otólitos trazem informações preciosas sobre toda a vida dos peixes. Não à toa são chamados de caixa-preta.
 
A partir de estudos com otólitos podemos identificar a idade dos peixes e, por meio de análises químicas, áreas que foram utilizadas para crescimento e reprodução, além de taxas metabólicas. Essas informações podem fornecer, por exemplo, conhecimento sobre como diferentes espécies de peixes se adaptam a novas condições ambientais, incluindo mudanças climáticas.
 
Para as espécies que são exploradas comercialmente, essas e outras informações são importantes para que haja um manejo da pesca eficiente e sustentável. Que nada mais é do que compatibilizar as demandas econômicas e sociais, com um nível de captura da espécie que não extrapole a capacidade de reposição do peixe no mar.
 
Contribuição dos otólitos para avaliação de estoque
 
A avaliação de estoque é a ferramenta utilizada para determinar qual a capacidade de reposição, como a pesca pode afetar essa capacidade e quais as condições ambientais para mantê-la. Os otólitos fornecem parte dessas informações, como a idade, que associadas a informações biológica da espécie podem indicar em que momento os peixes maturam e se estão aptos para reproduzir, bem como qual a expectativa de vida de uma espécie e quantos eventos reprodutivos podem ocorrer ao longo deste período. Identificam também áreas de crescimento ou reprodução, que podem ser definidas como prioritárias para o manejo sustentável.
 
Em alguns países, os otólitos são estudados há mais de cem anos e permanecem armazenados até hoje. O conhecimento sobre como o metabolismo ou áreas utilizadas pelo peixe se alteram sob condições ambientais diferentes das atuais, pode servir para prever o que acontecerá com os diferentes estoques de peixes com o aquecimento dos oceanos e subsidiar ações que deverão ser tomadas. 
 
Como é possível obter essas informações
 
O carbonato de cálcio e outros minerais que são depositados nos otólitos, vêm de duas fontes: da absorção da água em que o peixe está nadando, e do alimento utilizado para suprir a demanda energética. Assim, como a disponibilidade de alimento e o metabolismo variam ao longo do ano, por conta da sazonalidade ambiental, formam-se anéis de crescimento nos otólitos. Esses anéis são identificados para determinar a idade dos peixes.
 
Muitas espécies de peixes costeiros se movem entre estuários, lagoas costeiras e plataforma continental ao longo da vida. Uma vez sabendo a idade do peixe e por conta de parte do carbonato de cálcio ser absorvido da água, vestígios ambientais são deixados nos otólitos e funcionam como “marcadores químicos”, possibilitando rastrear quais áreas foram utilizadas pelo peixe e em qual estágio de vida, se juvenil ou adulta, por exemplo.
 
 

Sobre Luiz Carlos Matsuda
 
  • Oceanógrafo da Coordenadoria Técnica do Sindicato dos Armadores e das Indústrias de Pesca de Itajaí e Região (Sindipi).
 
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