Pescado e tarifaço: entre o risco e a chance de consolidar o consumo
Varejo

Pescado e tarifaço: entre o risco e a chance de consolidar o consumo

Por Marcio Milan, vice-presidente de relações institucionais e administrativo da Associação Brasileira de Supermercados (Abras)*

27 de novembro de 2025

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*Artigo escrito para o Anuário Seafood Brasil #60

Aprendi, ao longo de mais de cinco décadas dedicadas ao setor supermercadista, que crise costuma soar como sinônimo de dor de cabeça — e foi assim com as turbulências econômicas que atravessamos em diferentes momentos. Com o tempo, percebi que não raro, é justamente da crise que nascem caminhos para a inovação. 
 
É com esse olhar que observo agora o tarifaço imposto pelos Estados Unidos sobre o agronegócio brasileiro — e, de forma ainda mais dura, sobre a cadeia de pescado, que coloca produtores e exportadores em situação delicada. Os efeitos não ficam restritos às empresas: atravessam toda a cadeia e podem levar a demissões em massa, caso não haja uma reação coordenada.
 
Ainda assim, quando olho pelo retrovisor, vejo esse cenário com esperança, mas também com cautela — afinal, já enfrentamos desafios semelhantes, como o embargo à carne suína em 2006. Ou seja, se naquela ocasião a saída foi unir todos os elos da cadeia para ampliar o consumo por meio de campanhas e inovação no varejo, no caso do pescado, já vínhamos defendendo também outro caminho. No Anuário de 2024, por exemplo, eu enfatizei a importância de inserir o pescado na merenda escolar — não apenas para garantir proteína saudável às crianças, mas para moldar hábitos de consumo e valorizar a aquicultura e os pequenos produtores.
 
Hoje, essa estratégia de longo prazo se tornou também um instrumento emergencial. A saída encontrada pelo governo foi justamente permitir que a União, Estados e municípios comprem pescado de forma simplificada, sem necessidade de licitação, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), medida essa que assegura renda a produtores e cria alternativas para o escoamento da produção no atual cenário. Mas, sejamos francos: é apenas o primeiro passo para amortecer o impacto. Podemos e devemos ir além, pois o lado positivo é que a categoria já vinha em expansão. 
 
Em 5 anos, a seção peixaria saltou de R$ 4,44 bilhões para R$ 12,33 bilhões em faturamento, um crescimento de 178% — quase quatro vezes acima da média do setor supermercadista. Para efeito de comparação, o setor como um todo cresceu 48,3% no mesmo período — de R$ 554,6 bilhões em 2020 para R$ 822,4 bilhões em 2024, segundo dados das empresas respondentes do Ranking ABRAS 2025. Em termos relativos, a participação cresceu 87,5%, praticamente dobrou, de 0,8% para 1,5% do faturamento total.
 
Esse avanço não aconteceu por acaso. Afinal, os supermercados ampliaram a oferta de pescado fresco, congelado, enlatado e pratos prontos, apostaram em nichos como a culinária japonesa, firmaram parcerias mais sólidas com fornecedores e trouxeram rastreabilidade, sustentabilidade e experiências de consumo para dentro da loja. 
 
Mas é importante reconhecer: o crescimento também expôs fragilidades. As ineficiências da seção de peixaria, que vinham caindo até 2023, voltaram a subir em 2024, atingindo 2,44%. Em valores absolutos, isso significa R$ 301 milhões em perdas, mais do que o triplo do registrado em 2020 (R$ 95,8 milhões). São gargalos que atravessam toda a cadeia: produção, logística, cadeia fria e exposição no ponto de venda. Ou seja, se não forem enfrentados com processos mais eficientes, tecnologia e capacitação, eles podem limitar a expansão da seção.
 

 

Este texto faz parte da série de artigos publicados no Anuário Seafood Brasil #60. Para ler este e outros artigos na íntegra presentes nesta edição, clique aqui.
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Créditos imagem: Divulgação/Abras

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