Pesquisas mostram pescado inflacionado pela procura sazonal da Páscoa
Bacalhau teve a maior alta e em alguns lugares com variação de mais de 330%
05 de abril de 2023
A Páscoa e a Sexta-feira Santa são as datas mais importantes para o setor de pescado no Brasil e os dias que antecedem essas datas costumam provocar uma enorme procura por pescado em todas as regiões, mas neste ano o brasileiro vai ter que ficar mais atento e pesquisar por melhores preços se não quiser pagar muito caro em um produto inflacionado.
Diversas são as pesquisas que mostram a alta nos valores do pescado pela procura sazonal da Páscoa. O estudo do Instituto Brasileiro da Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE), por exemplo, aponta que os itens mais tradicionais do almoço de Páscoa tiveram um aumento médio de 12%, em comparação com o ano passado.
A taxa ficou bem acima da inflação acumulada entre abril de 2022 e março deste ano registrada pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC-S) da 3ª quadrissemana, que foi de 4,81%. Entre os itens que mais subiram, destacam-se o atum (12,97%), sardinha em conserva (11,46%) e bacalhau (10,91%).
“Desde 2020 até o terceiro trimestre do ano passado, vivemos um período de pressão sufocante de custos: problemas climáticos, forte desvalorização cambial, problemas energéticos, logísticos, entre outros, afetaram a oferta de vários alimentos no País”, explica o economista e pesquisador do FGV IBRE, Matheus Peçanha, responsável pelo estudo.
O economista destacou, ainda, que o consumidor deve ficar atento em relação aos preços praticados nos próximos dias. “A pesquisa não mostra, em definitivo, a elevação dos itens de Páscoa que o consumidor vai encontrar. Só medimos o que aconteceu com os preços dessa cesta específica nos últimos 12 meses, até março deste ano. Por exemplo, além do aumento já registrado de 5,18% do pescado fresco e 10,91% do bacalhau, os preços desses itens tradicionais podem subir mais ainda, dada a pressão sazonal da demanda às vésperas da Páscoa”.
PeixeBR vê destaque para tilápia
Sobre as vendas de pescado neste período, Francisco Medeiros, presidente executivo da Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR), informa que, normalmente no mês da Páscoa, há um aumento de 30% nas vendas médias mensais, o que não deve acontecer esse ano. “Em anos anteriores, o consumo aumentava e ‘explodia na Semana Santa’, só que nós estamos vendo um consumo aquecido desde o fim do ano passado, com isso, vamos ter um incremento entre 10 a 15% nas vendas médias mensais, porque já vendemos tudo que havia disponível. No que se refere às vendas da Páscoa, devemos ter um incremento entre 15% a 20% em relação ao feriado do ano passado“, diz Medeiros em entrevista ao MoneyTimes.
Medeiros ressalta que os custos do bacalhau e do salmão estão mais “salgados” em 2023, já que os preços dos produtos variam com base no dólar, com isso, na sua visão, vamos comer muito mais tilápia do que bacalhau ou salmão.
No entanto, segundo o presidente da PeixeBR, houve um aumento nos preços de forma geral, em função da alta dos insumos. Ele explica que na produção de peixes cultivo há uma maior previsibilidade nos preços, com os valores no atacado no mesmo patamar antes e durante a Semana Santa.
“A pesca tem a sazonalidade de preços e o peixe de cultivo é regular, com as negociações ocorrendo conforme as condições do mercada, sem amplitude de variação. O que costuma ocorrer neste momento é que o pescador, que sabe que o varejo precisa do produto, sobe o preço. Quando passa a semana santa e o varejo não precisa mais, o preço da pesca despenca, então são duas realidades totalmente distintas”, explica.
Alta na demanda e nos custos de produção
O Centro de Estudos de Economia Aplicada (Cepea/USP) destaca que a alta na demanda dos itens tradicionais da Quaresma, como é o caso do pescado e também dos ovos de galinhas, tendem a elevar os preços dos produtos. Isso se deve principalmente devido às altas nos preços dos ingredientes básicos da ração como o farelo de soja e o milho.
De acordo com o Cepea, o custo de produção tem crescido bastante ao longo dos últimos anos, principalmente os custos com milho e farelo de soja que são os principais componentes da ração animal.
Para Fábio Pizzamiglio, diretor da Efficienza, empresa especializada no comércio exterior, o cenário é uma oportunidade para o aumento das importações. "Com valores mais elevados no mercado e com uma demanda aquecida, podemos apostar no aumento da importação desses produtos, algo que pode passar no período das festividades e ter sequência em todo o ano”, afirmou o executivo.
Bacalhau com variação de mais de 330%
O quilo do bacalhau pode variar muito de uma região para outra, segundo pesquisa do Mercado Mineiro, em Belo Horizonte, o bacalhau tipo cod foi de R$ 152,68 para R$ 171,57 (12,37%). O bacalhau tipo porto imperial, dos R$ 177,88 para R$ 196,43 (10,43%). E o bacalhau tipo saithe, dos R$ 78,83 para R$ 83,32 (5,7%). Das opções mais "em conta", o quilo da tainha, que custava em média R$ 25,90, subiu para R$ 39,90, com aumento de 28%. O do filé de merluza subiu de R$ 26,79 para R$ 32,76, alta de 22%.
O Procon de Goiás realizou uma pesquisa de preços com peixes de água salgada, doce e demais frutos do mar. O levantamento apontou uma variação de até 332% e um aumento médio de 58% em alguns produtos comparados ao ano passado. A maior variação foi entre o bacalhau tipo saithe, que custa de R$ 34,90 a R$ 150,90 - uma diferença de 332% no mesmo produto. Já o famoso “Gadus Morhua" pode ser encontrado entre R$ 99,00 e R$ 239,90 o quilo.
Em São Paulo, o preço do quilo do bacalhau tipo “Gadus Morhua" pode ser encontrado o quilo entre R$ 149,00 a R$ 290,99. O bacalhau tipo saithe chega à sacola do consumidor com uma variação de R$ 26,90 a R$ 81,90.
No Rio de Janeiro, o preço do quilo do bacalhau tipo “Gadus Morhua” pode ser encontrado a partir de R$ 132,50 chegando a casa dos R$ 315,90. No tipo saithe a variação é menor ficando entre R$ 28,90 a R$ 75,90 o quilo.
Mesmo buscando alternativas para deixar o almoço mais em conta, os brasileiros ainda sofrem com a alta dos preços de outros ingredientes, como por exemplo, o ovo, a azeitona preta, azeite extra virgem etc. Para Fábio “É claro que podemos ver uma diminuição nos valores, mas enquanto tivermos o dólar alto, e os custos gerais elevados, será complexo manter as tradições desse período”, afirmou o executivo.
No Nordeste, um levantamento feito pela Autarquia de Proteção e Defesa do Consumidor da Paraíba (Procon-PB) mostra que o quilo do lombo de bacalhau está custando entre R$ 74,50 e R$ 99,99 em João Pessoa.
Segundo dados do Procon em Juazeiro da Bahia, o quilo do bacalhau tipo Saithe varia de R$ 52,90 a R$ 59,90. Do total de entrevistados pela pesquisa feita pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Mato Grosso do Sul (Fecomércio), 34,94% dos sul-mato-grossenses informaram que o peixe não pode faltar em suas compras de páscoa para a comemoração.
O Procon do Paraná registrou diferença de até 194,5% nos produtos. A sardinha registrou a maior variação entre os locais pesquisados. Nos mercados, o preço do pacote de 800 gramas da sardinha inteira congelada variou entre R$ 6,28 e R$ 18,50. Nas peixarias, o quilo da sardinha eviscerada congelada foi encontrado por R$ 16,13, no local mais barato, e R$ 38,80, no mais caro, o que representa diferença de 40,6%. A primeira pesquisa, realizada no final de fevereiro, indicou maior diferença, de 150,9%, no quilo do filé de linguado congelado, com preços entre R$ 55 e R$ 138. As informações são do Bem Paraná.
Já o Procon de Joinville (SC) fez uma pesquisa na sexta-feira (31), em sete estabelecimentos como peixarias e supermercados. Os fiscais levantaram os preços de produtos in natura e congelados da anchova, atum, bacalhau, cação, camarão, corvina, garoupa, linguado, merluza, pescada, robalo, salmão, sardinha e tilápia.
O produto que apresentou a mais variação de preço foi a posta da tilápia, com uma diferença de 214%. O quilo da posta foi encontrada em Joinville por R$ 22 e por R$ 68,98. O preço da sardinha limpa chega a ter uma diferença de preço de 208%, sendo vendida por R$ 12,90 a R$ 39,75.
O bacalhau desfiado também teve uma diferença de preço de 188% entre o local mais caro e o mais barato. Pode ser encontrado por R$ 59,90 a R$ 172,50. O quilo do camarão médio com casca (variação de 126%) é vendido em Joinville por R$ 34,90 a R$ 78,75. As informação são do portal O Município Joinville.
Com bacalhau em alta, a solução pode ser diversificar
A pesquisa Apas também aponta essa alta dos alimentos típicos da Páscoa. Conforme o estudo, os produtos que compõem a cesta de Páscoa estão 14,8% mais caros neste ano, uma alta acima do Índice de Preços dos Supermercados (IPS), que no mesmo período teve um incremento de 14,2%.
Conforme a SuperVarejo, o bacalhau (sem especificar o peixe) apresentou uma alta de 7,4% nos últimos 12 meses, sendo o grande vilão entre as proteínas que compõem a cesta de produtos típicos da época. Neste caso, a solução pode ser diversificar já que, em contrapartida, outros peixes, como corvina e a pescada aparecem como alternativa, com variação de -7% e 2% no mesmo período, respectivamente.
Varejo animado com a Páscoa
Apesar da inflação nos tradicionais itens de Páscoa, o varejo alimentar está animado com a proximidade da Sexta-feira Santa e a Páscoa, datas de maior venda para o setor supermercadista em todo o Brasil, perdendo apenas para o Natal. Neste ano, a Associação Paulista de Supermercados (Apas) estima um crescimento de vendas de 4,5% nos itens que compõem a cesta de Páscoa como é o caso dos chocolates, azeites, vinhos e também o pescado.
Segundo Carlos Correa, Diretor-Geral a entidade supermercadista, “a projeção se apoia na recente estabilidade no preço dos alimentos concomitantemente ao aumento do salário mínimo e no incremento das políticas de transferência de renda e combate à pobreza”, pondera o executivo.
Vale recordar que em relação a última Páscoa, 2023 teremos um incremento nominal de 50% no valor máximo do programa federal de transferência de renda, passando de R$ 400,00 para R$ 600,00, bem como os R$ 150 adicionais por cada criança de até 6 anos começará a ser pago em março de 2023. “Cada supermercado tem uma negociação diferente com a indústria. É vital que o consumidor faça a sua lista de compras e pesquise os preços no maior número de lojas possível, aproveitando ao máximo as promoções típicas da época”, revela Correa.
Conforme a Apas, o bacalhau apresentou alta de 1,4% em fevereiro e acumula aumento de 4,4% neste primeiro bimestre. Nos últimos 12 meses encerrados em fevereiro, o bacalhau aumentou 7,4%.
O grupo de pescado, no entanto, conforme a pesquisa, vem mostrando estabilidade de preços e oferece boas opções de substituição ao bacalhau. Enquanto o bacalhau aumentou mais de 7%, o pescado, no acumulado em 12 meses encerrados em fevereiro de 2023, aumentou 3,65%.
A corvina e a merluza são exemplos de substitutos ao bacalhau, uma vez que nos últimos 12 meses aferiram redução de preços na ordem de 3,5% e 1,3%, respectivamente.
Créditos: Canva
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