TILV nos EUA reacende alerta sobre doença no Brasil
Vírus teria sido detectado em uma instalação em Idaho, nos EUA
06 de agosto de 2019
O Serviço de Inspeção de Saúde Animal e Vegetal do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) informou no mês passado, o aparecimento do vírus Tilápia Lacustre (TiLV) pela primeira vez no país.
O vírus teria sido detectado em uma instalação em Idaho e conforme a declaração do USDA, as conseqüências da introdução e propagação do TiLV nos EUA poderiam ser substancial para a indústria. Em 2013, o valor total da tilápia produzida nos EUA foi de US $42.527.000, cerca de 6% de toda a produção aquícola em 181 fazendas.
Visto pela primeira vez no ano de 2009, em Israel e no Equador, o TILV afeta a tilápia de criação e selvagem. Nos últimos anos já foi confirmado em várias regiões do mundo, como a África, Ásia, América Central e América do Sul. Embora não seja conhecido por representar um risco para a saúde humana, ele tem um poder de devastação gigantesco na criação de tilápias, pois está associado com surtos de mortalidade entre 10% e 90% dos estoques.
Ação do vírus
O USDA lembra que os sinais do TiLV no surto de Israel em 2009, incluíam a descoloração dos peixes, abrasões na pele, degeneração ocular, congestão renal e encefalite. Em outros países, os peixes apresentaram perda de apetite, inchaço abdominal, exoftalmia, protrusão de escama e palidez.
As lesões estão associadas ao rim, fígado, cérebro e trato gastro-intestinal. O serviço americano informa que estudos sugerem que a tilápia pode desenvolver resposta imune protetora, como parecem ser imune a infecções subsequentes por TiLV se sobreviver à infecção inicial. O vírus seria relatado dentro de um mês após alevinos ou juvenis serem movidos de incubadoras para gaiolas de crescimento.
Teste de Diagnóstico
De acordo com a publicação, o teste de diagnóstico inclui PCR, isolamento de vírus em cultura de células e sequenciamento. A coleta inclui amostras de tecidos do fígado, coração, rim, baço e cérebro.
Tratamento
Atualmente não há tratamento ou vacina, mas boas práticas de biossegurança de aquicultura e maneio são recomendados para prevenir a introdução da doenças ou a propagação.
Alertas
Em 2017, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), fez um alerta sobre a doença. As recomendações diziam que a epidemia deveria ser tratada com grande cuidado e os países que importavam tilápia deveriam tomar medidas apropriadas de gestão de risco - intensificando testes diagnósticos, implementando certificados sanitários, implementando medidas de quarentena e desenvolvendo planos de emergência.
Outra publicação da FAO, frisou que a doença mostra uma mortalidade muito variável, lembrou dos surtos na Tailândia que causaram a morte de até 90% dos estoques.
Em maio do mesmo ano, a Rede de Centros de Aquicultura da Ásia-Pacífico (NACA) também emitiu recomendações sobre a doença e a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), fez um registro oficial da doença.
Estudos
No mês passado, o The Fish Site divulgou um novo estudo do Journal of Fish Diseases, onde identificou casos em que a tilápia infectada com o TiLV transmitiu a doença para os seus descendentes sem coabitar. A descoberta sugere que o vírus pode ser transmitido verticalmente, bem como através da coabitação de peixes infectados e suscetíveis.
Conforme a publicação, as tilápias que foram infectadas com o vírus, mas sobrevivem, são imunes a outras infecções por TiLV. Os pesquisadores foram capazes de isolar o RNA do TiLV no fígado e nas gônadas de machos e fêmeas de reprodutores. O vírus foi isolado na linha celular e ao testar alevinos com dois dias de idade para a presença de TiLV, os resultados indicaram que eles tinham herdado o vírus dos reprodutores.
Os pesquisadores enfatizam a necessidade de aderir a fortes medidas de biossegurança. Ao priorizar a prevenção e garantir que o vírus não seja introduzido no local da fazenda, a doença não irá proliferar. Os cientistas também sugeriram que os reprodutores livres de TiLV sejam desenvolvidos para limitar a transmissão vertical.
Medidas de prevenção
Preocupada com as consequências da doença na comercialização de formas jovens, empresas sediadas nos EUA, como a Spring Genetics, se esforçam para garantir que não há riscos de contaminação.
O grupo enviou um comunicado à imprensa após o USDA divulgar uma declaração informando o TiLV detectado em Idaho, EUA. Segundo a empresa, tal instalação fica a mais de 4.500 quilômetros da Spring Genetics e o surto foi devidamente controlado pelas autoridades e as medidas apropriadas foram tomadas para sua contenção.

O comunicado ressalta que, desde a sua criação em 2009, opera em um núcleo de reprodução fechado e biosseguro no qual nenhum peixe externo foi introduzido. No local, são realizadas análises sanitárias para monitoramento de diversas doenças, incluindo o TiLV que não foi detectado nos últimos três anos. O teste de rastreio do vírus TiLV é incluído na empresa como uma prática de rotina padrão.
“Testes são realizados em cada lote de animais enviados para um cliente/multiplicador. O teste desses lotes é específico para os requisitos exigidos pelo país importador. A Spring Genetics passa pelos testes mais rigorosos possíveis para proteger seus clientes. Os testes da OIE para todas as doenças de tilápias são concluídos no mínimo quatro vezes ao ano, e o programa é implementado para garantir que possamos continuar a ser uma fonte confiável de animais de criação e alevinos revertidos para a indústria. As medidas e protocolos de biossegurança implementados no núcleo”, informou a Spring Genetics.
O grupo também falou sobre o processo de importação. Conforme ele, os peixes importados pela Spring Genetics são oriundos do núcleo genético da empresa que atende todas as exigências quanto a obtenção de registros e licenças para a operação. E que a aquisição de alevinos da empresa significa “paz de espírito e segurança para nossos clientes quando se trata de gerenciamento de risco de doenças e biossegurança”.
No Brasil
No ano passado, atenta ao risco de chegada da doença ao Brasil, mas também aos perigos sanitários já existentes aqui, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) lançou duas publicações preparadas pela Comissão Nacional de Aquicultura da CNA: O “Manual Técnico – Biosseguridade e resposta a emergência sanitária para a produção de animais de aquicultura” e “Doenças de Animais Aquáticos de Importância do Brasil – Manual de Identificação no Campo” (leia mais aqui).
Na época, o presidente da Comissão Nacional e Aquicultura, Eduardo Ono, disse que a iniciativa da CNA iria disseminar informações relevantes para o setor produtivo com o foco nas doenças de grande abrangência. “Esses manuais vão contribuir para aumentar a competitividade e a segurança do setor aquícola brasileiro. O conteúdo tem linguagem acessível tanto para os técnicos como para os produtores facilitando a disseminação da informação”, afirmou.
Créditos da imagem: Spring Genetics