Um conselho para vender o seu peixe

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*Artigo escrito para o Anuário Seafood Brasil #55

O aumento na renda do consumidor permite que ele componha sua cesta de abastecimento com mais proteínas, ou praticando o que chamamos de efeito substituição: trocar um produto consumido em tempos de renda mais restrita por outro que agora cabe no seu orçamento. Esse movimento é capaz de alavancar cadeias produtivas, e não seria diferente com o pescado – um produto que, por vezes, é mais caro do que carne bovina e frango. De fato, isso não se discute.

Todavia, o que se discute agora no Conselho de Segurança Alimentar (Consea), onde represento o setor de supermercados há pelo menos duas décadas, são estratégias para inserir o consumo de pescado na merenda escolar. O objetivo é moldar hábitos de consumo ao oferecer um alimento reconhecidamente saudável e seguro, além de permitir o desenvolvimento de um paladar menos restrito a milhares de crianças e adolescentes que fazem suas refeições nas escolas públicas de todo o País.

Um exemplo notório e recente vem do Estado do Paraná, o maior produtor nacional de peixes de cultivo do País. Desde março deste ano, carne de peixe é um item obrigatório na merenda das escolas da rede estadual de ensino. Até então, ela fazia parte da merenda dos estudantes da rede pública, mas de forma facultativa, dependendo da disponibilidade econômica do governo estadual. A inclusão vem gerando otimismo na cadeia paranaense de aquicultura, que projeta um aumento nos negócios, envolvendo principalmente os pequenos produtores. Isso ocorre porque a medida impacta 1 milhão de alunos matriculados na rede pública e 1,8 milhão de refeições servidas diariamente em todo o Estado. Já a cidade de Joinville, em Santa Catarina, pode ser considerada uma das pioneiras na inclusão de pescado na alimentação dos estudantes da rede municipal de ensino, pois há mais de 20 anos o peixe faz parte da merenda escolar.

Essa onda positiva é bem-vista, tem boas referências e pode ser ampliada e compartilhada com os milhares de municípios brasileiros onde há não só acesso ao pescado do mar, mas também uma atividade de aquicultura bem desenvolvida. Um dos exemplos será São Paulo, pela grandiosidade dos números de alunos atendidos nas escolas da rede municipal. De acordo com dados da Secretaria Municipal de Educação, todos os dias são servidas 2,3 milhões de refeições para mais de 1 milhão de estudantes matriculados na rede municipal – o equivalente a alimentar a população inteira do Estado de Sergipe. Na capital paulista, outro dado que se destaca, além da complexa logística de distribuição dos alimentos e das cerca de 14 mil cozinheiras envolvidas no preparo das refeições, é o volume de compras de proteínas: em 2022, a prefeitura adquiriu 2.000 toneladas de congelados, como carne bovina, frango e filé de tilápia. Todo o processo se inicia com a compra prioritária de produtos da agricultura familiar – uma das premissas do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que não só garante refeições adequadas para milhões de estudantes, mas também impulsiona a produção da agricultura familiar, gerando renda e fortalecendo economias locais.  

 

Este texto faz parte da série de artigos publicados no Anuário Seafood Brasil #55. Para ler este e outros artigos na íntegra presentes nesta edição, clique aqui.

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