Um problema moderno chamado “microplástico”
Se há uma cadeia produtiva que poderá sofrer com este tipo de problema, esta é a cadeia produtiva do pescado
Werner Martins - 01 de junho de 2019
Não temos a pretensão de classificar o plástico como algo bom ou ruim, nem fazer juízo de valor a respeito do seu uso. A reflexão que faremos neste texto tem a ver com o que poderá acontecer nos próximos anos com as atividades econômicas que dependem do meio aquático.
Ao ler este texto, caro leitor, é natural concordarmos que é necessário diminuir a utilização de plástico e realizar o descarte correto de produtos a base de plástico, mas na prática, no dia a dia, é muito difícil harmonizar o nosso comportamento com o comportamento vigente no coletivo da sociedade e digo isso com base na minha experiência de vida.
Parece antiquado chegar a uma festa com uma caneca durável em mãos que será compartilhada entre você e seus filhos. Negar um pratinho de bolo em um aniversário e pedir sua fatia em uma folha de guardanapo de papel é motivo de chacota. Tomar água de coco direto no coco é terreno fértil para adjetivações como “ecochato”.
Saindo do campo pessoa física e partindo para o mercado, ações que visam a sustentabilidade são classificadas como custo desnecessário e o velho discurso do “já pago muito imposto e o governo que se vire” é bastante comum.
O que quero trazer neste texto não é o velho e gasto discurso do não jogue lixo nos oceanos. O buraco é mais embaixo, senhoras e senhores.
Crédito da foto: 5Gyres, courtesy of Oregon State University
A cadeia produtiva do pescado será um dos primeiros setores a ser afetado quando os consumidores de alimentos começarem a fazer suas escolhas baseando-se na informação de que o pescado (principalmente as espécies de topo de cadeia) está repleto de micropartículas de plástico, sobretudo devido ao fato dos ecossistemas aquáticos serem o grande depósito deste perigo quase invisível.
O plástico teve sua produção expandida principalmente a partir da Segunda Guerra Mundial por conta da dificuldade de comércio entre nações, que buscaram a substituição de alguns polímeros naturais, como couro, lã, algodão e madeira, por polímeros sintéticos a base de petróleo.
Os polímeros são estruturas químicas de alto peso molecular, formados por monômeros que, por sua vez, são unidos por ligações covalentes que se repetem ao longo da cadeia. Hoje, segundo o United Nations Environment Programme, mais de 8 milhões de toneladas de plástico são descartadas nos oceanos todos os anos¹.
Todavia, quando este material está nos oceanos, rios e em áreas de descarte de lixo, sofre ação dos agentes naturais físicos, químicos e biológicos. As sucessivas fragmentações e o desgaste do plástico geram as micropartículas de plástico. Essas micropartículas, por serem leves, estão na superfície e na coluna de água dos rios e oceanos. Pequenos animais alimentam-se delas³ e a introduzem na teia trófica.
O termo microplástico foi empregado pela primeira vez por Thompson e colaboradores em 2004 na revista Science², referindo-se ao conjunto de diferentes materiais poliméricos sintéticos com dimensões menores que 5 mm.
Essas micropartículas causam problemas de saúde aos animais e têm grande capacidade de se ligar, ou trazerem em sua composição elementos químicos considerados tóxicos para animais e humanos³, assim como bactérias patogênicas. Animais filtradores como mexilhões, ostras, vieiras e principalmente tilápias4 (base da aquicultura nacional), acumulam quantidades superiores de microplástico devido ao fato de terem exposição à essas partículas na alimentação feita através da filtração somada à ingestão de alimentos sólidos.
Microplástico também está presente em produtos de higiene e cosméticos. Já existe, há alguns anos, uma ação denominada Beat the Microbead5, liderada pelos holandeses para que as pessoas evitem o consumo desses produtos que contém microesferas de plástico em sua composição. Para auxiliar quem está disposto a mudar seus hábitos de consumo, esta campanha conta com um aplicativo para smartphones6.
Se há uma cadeia produtiva que poderá sofrer com este tipo de problema, esta é a cadeia produtiva do pescado. Será bastante salutar se as entidades de representação do setor do pescado formularem uma agenda de parceria com o setor de produção de plástico, principalmente de embalagens, para formularem estratégias de ação com o objetivo de racionalizar o uso do plástico, contemplando questões como ciclo de vida dos produtos e reciclagem.
Como exemplo, podemos citar a iniciativa da empresa Braskem que ocorrerá na Fispal Tecnologia: algumas medidas assumidas pela empresa serão apresentadas no dia 26 de junho de 2019, às 15:40 em uma palestra. Será uma boa oportunidade de familiarização com o assunto.
Crédito da foto em destaque: Flickr/Magnus Manske
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Sobre Werner Martins
- Werner Martins é engenheiro de pesca e sócio da Adsumus. contato@adsumus.org