Aquecimento global: Média da Terra bate recordes e pode impactar pesca
Após o mês de junho mais quente já registrado, a média de temperatura global da primeira semana de julho acaba de bater novos recordes
14 de julho de 2023
Após o mês de junho mais quente já registrado, a média de temperatura global da primeira semana de julho acaba de bater novos recordes de calor, de acordo com dados preliminares da Organização Meteorológica Mundial (OMM). Com isso, os cientistas alertam que as temperaturas recordes em terra e no oceano têm impactos potencialmente devastadores nos ecossistemas e no meio ambiente.
Este foi justamente o tema de um dos principais painéis da ExpoMAR – pesca, maricultura e logística, realizada entre 29 e 30 de julho, em Itajaí (SC), que debateu os efeitos do aquecimento global sobre a disponibilidade e o comportamento dos estoques pesqueiros e na maricultura. Na ocasião, a especialista Doris Soto, consultora internacional Chile e José Angel Alvarez Perez, pesquisador e professor da Univali, pontuaram pesquisas com base em dados que mostram o aumento da temperatura da Terra.
Soto iniciou sua apresentação reforçando como o estado mundial do clima está bem aceito por todo o universo da pesquisa. “Temos muita base de dados que mostram o aumento da temperatura da Terra. Achamos que 2016 foi o ano mais quente que coincidiu com o El Ninõ, mas, na verdade, os últimos dois anos foram igualmente quentes, então vemos uma situação inegável que se projeta”, fala.
A mudança climática é abordada a cada certo tempo pelo IPCC - relatório sobre mudanças climáticas da ONU - que no do ano passado mostrou alguns dos efeitos mais importantes sendo consequência desses gases do efeito estufa, como o aquecimento no mar, aumenta do seu nível e também redução de oxigênio em muitas partes do oceano. “O importante é que sobre esses efeitos estão também os outros impactos que nós geramos nos recursos. Por exemplo, um mau manejo dos recursos que incrementam esses impactos", fala a especialista.
Conforme ela, o último relatório projeta mudanças climáticas bem severas no impacto dos sistemas naturais e humanos e aumento para diferentes regiões. "Vemos como aumenta a temperatura pensando num cenário mais crítico e vemos a redução dessa potencial pesca”, diz.
Com isso, a especialista destaca que os impactos da mudança climática sobre sistemas naturais e sociais são bem complexos. “Se a temperatura do oceano mudar, os peixes tendem a se mover e alguns vão buscar temperaturas mais quentes ou mais frias e esse é um dos fenômenos mais importantes que já foram observados em várias partes do mundo.”
Agora, os organismos que são fixos no fundo, como os moluscos e as algas, têm uma mobilidade mais debilitada e também sofrerão impactos, embora as larvas sejam aquelas que ainda têm algum grau de adaptação.
“Obviamente, a temperatura das águas nem sempre aquece, muitas vezes ela sofre um resfriamento também. E na situação da atmosfera, no geral, acaba produzindo incremento de espécies, afetando a produção e consequências econômicas para a alimentação humana”, conta.
Diante do cenário alarmante, Soto ressalta que: “não podemos parar essa mudança climática, a gente tem que se adaptar”. E, para isso, conforme ela, temos que reduzir os riscos da vulnerabilidade. “Algumas medidas para qualquer tipo de ameaça: melhorar a gestão da pesca, evitar a superexploração dos recursos pesqueiros e a piora dos habitats relevantes…”, fala.
Para a especialista, se existe uma pressão ambiental extra é possível que algumas populações quase desapareçam. Por isso, é necessário ter populações pesqueiras saudáveis e que se reproduzem bem. “Desenvolver boas projeções climáticas e de monitoramento com aplicação à pesca. Também é muito importante entender qual é a ameaça e é necessário avaliar os riscos de vulnerabilidade para tratar da questão social e das comunidades, da questão econômica, melhorar o valor agregado e o consumo eficiente e, claro, aumentar a diversificação produtiva a nível local”, completa.
Preocupação aumenta com o calor excepcional
A média de temperatura global da primeira semana de julho, que bateu novos recordes de calor, repercurtiu em todo o mundo. Uma publicação do The Guardian frisa que a temperatura média global do ar foi de 17,18°C (62,9°F) na terça-feira (4/7), de acordo com dados coletados pelo Centro Nacional de Previsão Ambiental dos Estados Unidos (NCEP), superando o recorde de 17,01°C alcançado na segunda-feira (3).
Com os altos números, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que “as mudanças climáticas estão fora de controle”, mesmo a análise não sendo oficial. “Se persistirmos em adiar medidas fundamentais que são necessárias, penso que estamos a caminhar para uma situação catastrófica, como demonstram os dois últimos recordes de temperatura”, disse Guterres.
Para o período de sete dias encerrado na quarta-feira (5/7), a temperatura média diária foi 0,04C (0,08F) maior do que qualquer semana em 44 anos de manutenção de registros, de acordo com os dados do Climate Reanalyzer da Universidade do Maine. Essa métrica mostrou que a temperatura média da Terra na quarta-feira permaneceu no recorde de 17,18°C.
O Climate Reanalyzer usa dados do sistema de previsão climática NCEP para fornecer uma série temporal da temperatura média diária do ar de dois metros, com base nas leituras da superfície, balão de ar e observações de satélite.
No comunicado divulgado pela OMM, o professor Christopher Hewitt, diretor de Serviços Climáticos disse: “O calor excepcional em junho e no início de julho ocorreu no início do desenvolvimento do El Niño, que deve alimentar ainda mais o calor tanto na Terra quanto nos oceanos e levar a temperaturas mais extremas e ondas de calor marinhas”. E completa: “Estamos em território desconhecido e podemos esperar que mais recordes caiam à medida que o El Niño se desenvolve e esses impactos se estenderão até 2024”, disse ele. “Esta é uma notícia preocupante para o planeta.”
De acordo com a análise provisória baseada em dados de reanálise do Japão, chamada JRA-3Q , a temperatura média global em 7 de julho foi de 17,24 °C. Isso é 0,3°C acima do recorde anterior de 16,94°C em 16 de agosto de 2016 – um forte ano de El Niño.
“De acordo com vários conjuntos de dados de nossos parceiros em diferentes partes do mundo, a primeira semana de julho estabeleceu um novo recorde em termos de temperaturas diárias”, disse o Dr. Omar Baddour, chefe de monitoramento climático da OMM. “A OMM e a comunidade científica em geral estão observando de perto essas mudanças dramáticas em diferentes componentes do sistema climático e nas temperaturas da superfície do mar”, completa.
Junho mais quente
Um relatório do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus da União Europeia – um colaborador próximo da Organização Meteorológica Mundial – mostrou que junho de 2023 foi pouco mais de 0,5°C acima da média de 1991-2020, quebrando o recorde anterior de junho de 2019.
Temperaturas recordes de junho foram registradas no noroeste da Europa, de acordo com a Copernicus. Partes do Canadá, Estados Unidos, México, Ásia e leste da Austrália ficaram significativamente mais quentes do que o normal.
Conforme a OMM, junho não foi o mais quente somente em todos os lugares, na verdade, foi mais frio do que o normal em alguns lugares, incluindo o oeste da Austrália, o oeste dos Estados Unidos e o oeste da Rússia.
O relatório do Copernicus Climate Change Service, implementado pelo European Centre for Medium-range Weather Forecasting, disse que as temperaturas da superfície do mar do Atlântico Norte estavam “fora das tabelas".
A poblicação destaca que as temperaturas globais da superfície do mar atingiram recordes para a época do ano, tanto em maio quanto em junho. Isso tem um custo. Terá impacto na distribuição da pesca e na circulação oceânica em geral, com repercussões no clima. Não é apenas a temperatura da superfície, mas todo o oceano está ficando mais quente e absorvendo energia que permanecerá lá por centenas de anos. Os alarmes estão soando especialmente alto por causa das temperaturas sem precedentes da superfície do mar no Atlântico Norte.
"As temperaturas no Atlântico Norte são inéditas e preocupantes. Elas são muito mais altas do que qualquer coisa que os modelos previram”, disse o Dr. Michael Sparrow, chefe do Departamento de Pesquisa Climática Mundial da OMM. “Isto terá um efeito negativo nos ecossistemas, nas pescas e no nosso clima”, pontua.
“O Atlântico Norte é um dos principais impulsionadores do clima extremo. Com o aquecimento do Atlântico, há uma probabilidade crescente de mais furacões e ciclones tropicais. A temperatura da superfície do mar do Atlântico Norte está associada a fortes chuvas ou secas na África Ocidental”, completa Baddour.
Créditos: Canva
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