Desafios climáticos pedem adaptação e mitigação na pesca e aquicultura
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Desafios climáticos pedem adaptação e mitigação na pesca e aquicultura

Sábado (16) foi celebrado o Dia Nacional de Conscientização sobre Mudanças Climáticas, trazendo à pauta a importância desse debate

18 de março de 2024

O aquecimento global tem impactos significativos na pesca e na aquicultura, afetando tanto os ecossistemas marinhos quanto os de água doce em todo o globo. Para enfrentar esses desafios, são necessárias diversas medidas de adaptação e mitigação, incluindo a gestão sustentável dos recursos pesqueiros, a redução das emissões de gases de efeito estufa e a proteção de comunidades mais vulneráveis. No sábado (16), o Dia Nacional de Conscientização sobre Mudanças Climáticas foi celebrado, trazendo à pauta a importância desse debate.
 
Entre as consequências mais graves do aquecimento global está a elevação da temperatura dos oceanos, que impacta significativamente a vida marinha. Muitas espécies marinhas são sensíveis a essas mudanças, conforme destacado em uma publicação do SoCientífica.
 
Um estudo mencionado pelo jornal aponta que a acidificação dos oceanos pode levar à perda de até US$ 1 trilhão na economia global até 2100. Isso ocorre porque muitas espécies marinhas são importantes para a pesca comercial e a aquicultura, e a perda dessas espécies pode ter um impacto significativo na economia de muitos países. Além disso, o aquecimento global também pode levar à ocorrência de eventos climáticos extremos, como tempestades e furacões.
 
Uma publicação do portal EcoDebate destaca como o pesquisador Henry Wootton, da Universidade de Melbourne, constatou que a pesca somada aos efeitos do aquecimento dos oceanos pode impactar o processo de recrutamento dos peixes, crucial para a manutenção e a dinâmica das populações de espécies ao longo do tempo.
 
A atividade pesqueira é fundamental para o fornecimento de pescado, garantindo a segurança alimentar e econômica em todo o mundo. Porém, é necessário garantir que essa atividade seja sustentável também em níveis econômicos. Nos últimos anos, diversos impactos e alterações na pesca foram amplamente noticiados em diversas regiões.
 
No Alasca (EUA), a CNN relatou que os caranguejos-da-neve desapareceram das águas frias do Mar de Bering devido às mudanças climáticas, afetando comunidades dependentes da pesca na região. No Golfo do Alasca, as comunidades pesqueiras enfrentam o aquecimento dos oceanos e a elevação das temperaturas dos recursos hídricos, afetando volumes de captura e infraestrutura local, conforme o Fisheries.
 
No Atlântico Norte, observa-se uma mudança no padrão de distribuição da cavala e declínios na população de bacalhau devido ao aumento da temperatura das águas marinhas. Esses desafios destacam a necessidade de adaptação e preparação para enfrentar décadas de mudanças climáticas, segundo publicações do MSC.
 
Impactos no Brasil
 
No Brasil, também diversos são os impactos. No Ceará, por exemplo, o portal O Povo destaca o estudo de um grupo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte que mostra como a migração dos peixes para águas mais frias provocaria a alteração dos recifes de corais, impactando os setores econômicos do Turismo e Pesca. 
 
No ano de 2020, segundo pesquisadores cearenses, houve a elevação de 1°C nos mares cearenses e - como consequência -, o branqueamento dos corais, segundo informou Sandra Paiva, doutoranda do Labomar. O fato de os corais estarem brancos não significa que eles já morreram, mas indica estado de estresse e vulnerabilidade.
 
Em Santa Catarina, os climatologistas destacam a necessidade urgente de ação e preparação para enfrentar décadas de mudanças climáticas, pois os oceanos mais quentes podem aumentar os eventos extremos. Para o portal ND+, a pesquisadora Regina Rodrigues, do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Santa Catarina, ressaltou que, com o aquecimento dos oceanos, há o impacto na circulação atmosférica, gerando tempestades fortes e eventos extremos, como os observados no ano passado e que geraram impactos econômicos e ambientais em diversos regiões do Estado. 
 
Vulnerabilidade social 
 
As mudanças climáticas ainda impactam severamente às populações em maior vulnerabilidade social, a exemplo dos pescadores artesanais. Na baía de Antonina, no Paraná, assim como ao longo do litoral paranaense, há um descompasso ainda maior nos últimos vinte anos devido a impactos socioambientais e às mudanças climáticas. 
 
“A gente ganha hoje pra comer amanhã. A questão é que há uns 15, 20 anos, a nossa baía era muito farta. Em um dia pescando retirávamos 10 kg de pescado. Hoje você pode passar o dia inteiro trabalhando para conseguir só 2 kg. E quando chove, piora. O siri e os peixes somem, não temos mais garantia nenhuma”, relata a marisqueira Lucineia Ricardo Adriano Cacilha.
 
A bióloga e consultora socioambiental do projeto “Olha o Clima, Litoral!”, realizado pelo Mater Natura - Instituto de Estudos Ambientais, com apoio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, Juliana Pina, aponta que a degradação ambiental, a redução de recursos pesqueiros, a insegurança alimentar, a falta de acesso ao saneamento básico e as chuvas intensas são alguns desses impactos, que tornam essas populações ainda mais vulneráveis. 
 
“É preocupante o que vem acontecendo com as comunidades pesqueiras tradicionais, que têm seus modos de vida cada vez mais ameaçados. Os efeitos das mudanças climáticas, como chuvas intensas em períodos curtos, já têm afetado a comunidade de Antonina, que observa a diminuição da disponibilidade de algumas espécies. A alteração na salinidade da água interfere na distribuição e ocorrência das espécies, que podem ter suas populações abaladas em alguma fase do seu ciclo de vida”, explica Pina.
 
O projeto realiza estudos que incluem projeções de aumento do nível do mar e de estoques de carbono no litoral do Paraná em cenários futuros (2050 e 2100) e os possíveis impactos socioambientais nestes contextos. A partir deles, serão elaboradas recomendações estratégicas para tomadores de decisão, com o intuito de contribuir para frear os efeitos das mudanças climáticas, a partir da abordagem de adaptação à mudança do clima baseada em ecossistemas (AbE).
 
A vulnerabilidade social tem gênero
 
Segundo o engenheiro florestal e consultor ambiental do projeto César Tavares, que é um dos responsáveis pelos estudos climáticos, as projeções indicam que haverá uma interferência do aumento do nível do mar nos habitats naturais, especialmente em brejos salinos e manguezais, o que vai comprometer ainda mais a flora e a fauna da região. "Logo, infelizmente, é esperado que esses espaços naturais tenham suas áreas reduzidas e, por consequência, tornem a comunidade mais vulnerável, especialmente as mulheres”, acrescenta. 
 
De acordo com o relatório Women in Finance Climate Action Group, 8 em cada 10 pessoas deslocadas pelas mudanças climáticas são do gênero feminino. As mulheres também enfrentam mais dificuldades nesse contexto, como a informalidade e a falta de reconhecimento como pescadoras artesanais e, consequentemente, maior dificuldade em participar de políticas públicas para esse público e de processos decisórios relacionados à atividade. Por outro lado, em geral, as pescadoras e marisqueiras são responsáveis pela gestão financeira da família, criação dos filhos e complementação da renda.
 
Nesse sentido, Tavares destaca que os efeitos das mudanças climáticas se manifestam de maneira diferente em indivíduos e em populações, o que depende das condições de vulnerabilidade, como uma cadeia de fatores que torna uma pessoa mais suscetível à sobrecarga de funções e à pobreza. “Antigamente era possível prever as épocas de pesca, hoje os/as pescadores/as e marisqueiras já encontram muitas dificuldades. Isso acaba dificultando a gestão financeira da família, função que frequentemente fica a cargo da mulher, somada à sobrecarga dos demais afazeres”, detalha.
 
Mais um aspecto que torna as mulheres mais vulneráveis em decorrência das mudanças climáticas é a incidência de doenças que são transmitidas por vetores como dengue, zika e chikungunya. Com o aumento da temperatura e das chuvas, os insetos vetores dessas doenças estão se proliferando mais rapidamente e expondo a população, especialmente as mulheres grávidas e idosas, a riscos. 
 
Créditos da imagem: Canva 
 

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