O mercado consumidor e o pescado
Institucional

O mercado consumidor e o pescado

Resiliência e adaptabilidade são os fatores mais determinantes nas principais tendências globais de consumo

04 de janeiro de 2024

Por: Erika Fabiane Furlan, pesquisadora do Instituto de Pesca de São Paulo
 
Diante do cenário de ansiedade e tensão vividos na atualidade, procuramos soluções holísticas e resilientes, um consumo mais consciente e, em alguns casos, formas de reagir ou protestar.
 
Resiliência e adaptabilidade são os fatores mais determinantes nas principais tendências globais de consumo. Assim, algumas tendências foram criadas, influenciadas e/ou aceleradas pela pandemia, mudando para sempre o comportamento dos consumidores. Novos hábitos se consolidaram rapidamente e comportamentos e modelos de consumo mudaram para sempre em decorrência da pandemia causada pelo coronavírus. 
 
Na área da alimentação não é diferente, algumas tendências se fortaleceram, como o consumo de produtos com apelo saudável, planted based, o uso de ingredientes não convencionais e de produtos personalizados, como para atendimento ao mercado fit e de conveniência; o Brasil ainda carente de opções a base de pescado, mas tem potencial de crescimento para o abastecimento de mini mercados locais e até mesmo condominiais, outra grande tendência em grandes centros.
 
Neste sentido, produtos minimamente processados de pescado com teor de sódio reduzido e com apelo nutricional estão em voga. Muitos estudos têm sido desenvolvidos no sentido de substituir os aditivos intencionais, normalmente utilizados na indústria de processamento na conservação do pescado e para extensão da vida útil por ingredientes
naturais, como óleos essenciais e plantas condimentares.
 
Frente a maior consciência dos consumidores quanto aos prejuízos do excesso de sódio na alimentação e a associação do sódio aos produtos ultraprocessados. Em se falando em processados, o foco da indústria de alimentos ainda são os análogos plant based, ou seja, mimetizar os produtos cárneos em suas características como textura, sabor, cor, visto que os principais consumidores não são veganos/vegetarianos e sim pessoas com dietas mais flexíveis, que apenas desejam reduzir a  ingestão de carne em suas dietas.
 
Neste sentido, ervilha e soja são os ingredientes mais utilizados para atender este universo de 67% de flexitarianos, ou seja, o público consumidor de produtos plant based que muitas vezes comem produtos cárneos e que buscam apenas reduzir a participação da carne na alimentação.
 
Assim, temos como alternativa utilizar o apelo saudável e sustentável dos alimentos aquáticos, que apresentam menor emissão de carbono no processo produtivo quando comparado às outras carnes, para o desenvolvimento de análogos de pescado a base de surimi, carne mecanicamente separada de peixe ou ainda, através do desenvolvimento de produtos reconstituídos com o uso de enzimas, por exemplo.
 
Produtos artesanais e não convencionais também apresentam um mercado crescente. Além disso, o pescado pode ser inserido na linha de produtos fit, através de lanches rápidos e proteicos, como crackers de pescado, produto já desenvolvido pela Unidade Laboratorial de Referência de Tecnologia do Pescado-ULRTP do Instituto de Pesca, no passado para atendimento ao mercado institucional, mas trata-se de um produto perfeito para um lanche rápido pré-treino para o consumo no percurso do trabalho para a academia. Ou ainda, a sopa instantânea de peixe outra opção de lanche proteico também desenvolvida durante o doutorado da pesquisadora dra. Cristiane R. P. Neiva. 
 
Este projeto intitulado ”Desenvolvimento de biscoito à base de carne mecanicamente separada (CMS) de peixes subutilizados”, do Instituto de Pesca (IP-APTA) vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento, foi classificado em primeiro lugar na categoria “pesquisa científica” do “Prêmio Josué de Castro de Combate à Fome e à Desnutrição” e recebeu o 1º lugar na categoria Produto Final com o projeto “Biscoito de pescado: um case de produto saudável com alto valor agregado” do Prêmio Inovação Aquícola de 2019. Mais informações do trabalho acesse aqui.
 
Mais informação
 
Aproveitando a tendência de mercado, com consumidores que buscam mais saúde e beleza através da alimentação, é um excelente momento para informar os consumidores e orientá-los também para um consumo mais consciente; aproveitando que o consumo de pescado já está relacionado à dietas mais saudáveis e que as discussões globais quanto aos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) estão em destaque para utilizarmos a comunicação como ferramenta para a transformação dos nossos mercados e torná-los mais resilientes às crises cada vez mais frequentes.
 
É importante informar o consumidor quanto aos benefícios do pescado e para a prevenção dos riscos associados à saúde, nutrição, preservação do alimento e do meio ambiente, bem como, sobre a importância socioeconômica da pesca artesanal e dos recursos aquáticos para a saúde do planeta e da aquicultura e pesca mundiais. Informar os consumidores quanto a origem, cultivo/pesca, industrial/artesanal, local e arte de pesca, métodos de conservação e impacto socioambiental pode ser uma ferramenta de valorização dos recursos pesqueiros locais e regionais e, consequentemente, das comunidades de pescadores (as) que vivem da atividade pesqueira, propiciando desenvolvimento regional pela melhoria das condições de vida destas pessoas. 
 
O papel da pesquisa
 
Neste sentido, a pesquisa tem buscado reconhecer os principais desafios da pesca e auxiliar o setor com o levantamento e organização das informações, discutindo interdisciplinarmente os possíveis caminhos de agregação de valor e para a garantia da qualidade do pescado e da sustentabilidade da atividade.
 
A pesca artesanal tem relevância na conservação da biodiversidade, devendo ser mais bem gerida, pois a sua dependência do equilíbrio ecológico pode colaborar com a conservação dos estoques pesqueiros e a perpetuação da economia gerada pela atividade. Para isso, a valoração adequada do pescado selvagem capturado desempenha um papel fundamental na valorização da pesca artesanal e, consequentemente, na promoção de uma gestão mais sustentável dos recursos hídricos. 
 
Além disso, segundo o documento Diretrizes Voluntárias para Garantir a Pesca de Pequena Escala Sustentável no Contexto da Segurança Alimentar e da Erradicação da Pobreza da Organização das Nações Unidas para a Agricultura-FAO, o consumo consciente pode contribuir para os esforços globais e nacionais para a erradicação da fome e da pobreza e promover o desenvolvimento mais sustentável.
 
Por outro lado, temos uma aquicultura crescente visando o atendimento a demanda mundial por alimentos aquáticos e então, a intensificação da produção aquícola e, portanto, que trabalhar cada vez mais alerta na prevenção dos riscos. 
 
A qualidade e a segurança dos produtos alimentares são tópicos importantes da atualidade e é crescente as exigências nas várias etapas da cadeia de produção para a garantia do alimento seguro. 
 
Avanços científicos recentes, principalmente no campo da biotecnologia, têm auxiliado no esclarecimento e controle dos processos patogênicos em peixes. Técnicas de biologia molecular têm sido desenvolvidas e utilizadas para o diagnóstico das principais doenças, identificação de fatores de virulência, caracterização molecular de isolados e desenvolvimento de vacinas.
 
Assim, deve-se lançar mão dessas ferramentas para anteciparmos os perigos e atingir uma aquicultura sustentável, oferecendo nutrição e qualidade através da prevenção. A pesquisa também tem avançado com ferramentas IA para o controle de processos e para a rastreabilidade, visando a prevenção e a promoção da saúde. 
 
Com a internet na palma da mão dos consumidores as questões de qualidade são mais críticas, pois quaisquer notícias/informações negativas ou mal formuladas podem trazer prejuízos à toda a cadeia do pescado, quer seja da pesca ou da aquicultura, já que o consumidor pouco informado não reconhece a importância da origem do pescado, nem mesmo as diferentes espécies e suas particularidades.
 
Ainda conhecemos pouco sobre as potencialidades das nossas espécies comerciais e nativas, não apenas em termos alimentares e nutricionais, mas também como fonte de biomoléculas e seus potenciais tecnológicos, nutracêuticos e/ou farmacológicos. 
 
Dos salmonídeos por exemplo, que se tem um pacote tecnológicos desenvolvido para a produção e o seu aproveitamento integral em algumas localidades já encontramos no mercado até mesmo produtos para tratamento dermatológico de regeneração da pele, a base de Polydeoxyribonucleotide (PDRN) obtido a partir do esperma de trutas/salmões. 
 
Outros desafios
 
As cadeias produtivas do pescado apresentam diversos desafios, mas têm muitas oportunidades para o pleno desenvolvimento no País, desde que seja pautado na prevenção de riscos, redução das perdas, na sustentabilidade e no olhar de cadeia e ferramentas vêm sendo desenvolvidas para tal.
 
A ULRTP do Instituto de Pesca tem atuado subsidiando tecnicamente diversas iniciativas do segmento produtivo e contribuindo de maneira objetiva com o segmento. Nossa atuação se dá através do desenvolvimento de estudos e pesquisas, bem como, consultorias visando desde a adequação de estruturas de processamento de pescado e/ou de processos de desenvolvimento de produtos até a transferência de informações sobre legislação e a oferta de cursos e treinamentos para os profissionais do pescado, além de promover eventos para integração do setor e academia. 
 
A referida unidade fica localizada na Avenida Bartolomeu de Gusmão, 192, Ponta da Praia, Santos-SP, junto ao Centro de Pesquisa do Pescado Marinho. 
 
Maiores informações: erika.furlan@sp.gov.br
 
Créditos da imagem: IP
 
 

 
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