Webinar discute compras de pescado internacional e pós-Covid19
Importações foram o sexto tema da série que já falou sobre lideranças setoriais, varejo, e-commerce, food service e exportações
27 de maio de 2020
A série de webinars do “Pescado em Análise” desta terça-feira (27/05), discutiu os impactos que a pandemia provocada pelo novo coronavírus ocasionou nas compras de pescado internacionais e o cenário no pós-pandemia.
Com a participação de Abraão Oliveira, da Projepesca Consultoria, Felipe Katata, da Mitsubishi Corporation, Ivan Lasaro, da Opergel Alimentos, Pablo Basso, da Iberconsa e Vanessa Salomão, da multinacional Interatlantic. Clique aqui para assistir na íntegra a transmissão, que teve o patrocínio do Alaska Seafood Marketing Institute.
As importações foram o sexto tema da série que já falou sobre lideranças setoriais, varejo, e-commerce, food service e exportações. Clique aqui para assistir.
Abrão Oliveira, da Projepesca Consultoria abriu a discussão com as estatísticas do comércio exterior. Ao analisar o histórico das importações ao longo dos últimos 20 anos, o Chile aparece como principal origem das compras internacionais, representando praticamente 50% do total. Na sequência estão países como a Noruega, China, Argentina, Portugal e Vietnã.
O Brasil também é um importador relevante de pescado, sobretudo de espécies como salmão, bacalhau, merluza, sardinha e cação.
Ao analisar especificamente a partir da Covid-19 o histórico mensal do volume de importações entre os anos de 2018, 2019 e 2020. Abraão destaca a queda significativa do preço médio e volume de importação a partir da Semana Santa. Só no mês de abril a redução no volume foi de 46% comparado com 2019 e um declínio em 61% de valor no preço médio. “A gente tinha importação com valor em média de US$ 3.800 a tonelada caindo para US$ 2.750 a tonelada”.
Os peixes frescos foram os que sofreram maior impacto no volume, que é o caso do salmão que quando comparado com a mesma época no ano passado, teve uma redução de 3.800 toneladas. Já nos congelados o maior impacto aconteceu na indústria da sardinha. Para a espécie vinda do Marrocos, por exemplo, uma das justificativas é o cenário pós-Semana Santa, mas também a modificação na rotina da indústria.
A mesma coisa aconteceu com os filés congelados e uma redução das importações significativas dos filés de merluza vindos da Argentina, embora tenha sido verificado um aumento das importações de filés com outras origens, como do Vietnã. “Então, há uma redução clara de produto com valor agregado mais alto para um produto com valor agregado mais baixo e também uma redução significativa dos volumes, sobretudo de peixes frescos frente aos congelados”, sublinhou.
Ele destaca também que para este novo cenário a sustentabilidade e a saudabilidade ficaram mais evidentes, assim como a forma de compra do consumidor com uma presença maior nos supermercados. Para ele, o varejo nacional terá que desenvolver novas estratégias diantes de volumes e cenários diferentes no País.
Novas estratégias
A necessidade de novas estratégias para o varejo também foi citada por Ivan Lasaro, da Opergel Alimentos, que fez uma síntese dos principais produtos de pescado que sofreram com a pandemia e com fechamento do food service.
Para ele, a pandemia foi inesperada já que ninguém “leu” o que tinha acontecido na China e no resto do mundo. Quando a quarentena obrigou a parada total em março, o food service foi mais atingido, sobretudo com produtos como o salmão fresco. Já os supermercados viram um acréscimo nas vendas seafood, mas que não foram tão significativas. “O mercado vai mudar e a grande questão é o que vai ser depois da pandemia”, refletiu Lasaro.
Para os supermercados, ele defende que a tendência é o produto semi-pronto. "O produto mais óbvio é o produto pronto que é mais fácil de se consumir em casa”, analisou.
Mas ele também alerta que os supermercados precisam se preocupar mais com produto e oferecer formas de preparo. Já as classes A e B deverão continuar consumindo, assim como os mais jovem. Mas, queda de renda da população vai se refletir no consumo direto e as classes C e D serão as que mais sofrerão.
Já os restaurante vão precisar de uma consolidação no setor de peixes para reduzir custos no geral e com um trabalho de marketing mais efetivo e profissionalizado. “O mercado vai voltar mas não no volume que era antigamente”, destaca.
Os fornecedores também vão precisar olhar o mercado nacional e se ajustar a sua realidade já que tudo indica que o País terá menos dinheiro. Ele vê como um pacote a necessidade da consolidação entre produtos e preços. "Quem conseguir armar melhor isso vai ter a fatia maior do mercado melhor”, destacou.
Hora de comprar panga
A Mitsubishi Corporation é detentora de empresas de referência mundial como a Cermaq na produção de salmão e a Vinh Hoan como uma das principais fornecedoras de panga no mundo. Na videoconferência, Felipe Katata, falou sobre as vendas destas empresas ao Brasil e como a pandemia impactou o comércio de pescado na Ásia.
Conforme ele, a queda drástica no Brasil foi sentida nos dois produtos, mas em tempos diferentes, sobretudo porque o panga não tem grande mercado no País, diferente do salmão. “Quando a gente fala de mundo, aí nós tivemos um aumento drástico nos pedidos, exemplo o mercado americano que viu o asiático fechar e se adiantou nos pedidos", completou.
Ele revela que este é o melhor momento para comprar o panga, justamente porque o mercado chinês está se recuperando de forma rápida e o Vietnã foi pouco atingido pela pandemia com uma gestão de saúde de “brilhante” e poucos casos de contaminação.
Já para o salmão o cenário é mais complicado. “Nós sentimos o impacto na veia e quando bateu aqui já tinha batido na Ásia e nos Estados Unidos”, disse. Katata sublinha que o mais complicado para a empresa foi a queda dos preços no Chile, ocasionado justamente pela falta de demanda. Embora, estes preços não tenham refletido no Brasil por fatores como o câmbio alto e contingência na inadimplência.
O mercado de salmão no Brasil da Cermaq é mais desafiador já que em termos de relevância é o segundo maior. “Por exemplo, toda a oferta de salmão fresco que iria para China para o Ano Novo Chinês que não ocorreu como deveria voltou-se para o Brasil”, comenta.
Katata revela ainda que a Cermaq não fechou totalmente e conseguiu manter algumas plantas e os carregamentos para o Brasil e o mundo inteiro. Outro fator importante foi a política rígida da Mitsubishi em relação à inadimplência que é adotada mundialmente para todas as operações.
Política rígida
A política rígida em relação à inadimplência também é um dos pontos positivos que ajudaram a multinacional Interatlantic a não sofrer grandes impactos com a pandemia, conforme revela a coordenadora do mercado brasileiro, Vanessa Salomão. Ela realizou no webinar uma análise como fornecedora de pescado ao Brasil e ao mercado europeu.
Com relação ao Brasil, a empresa tinha uma estimativa positiva para o ano, já que viram uma Semana Santa melhorando gradativamente nos últimos anos, mas a quarentena pegou todo mundo de surpresa. Ela mantém a expectativa de que as coisas comecem a melhorar já no segundo semestre do ano. “Estamos otimistas em relação a recuperação porque vemos mercados com a Itália e Portugal que estavam totalmente bloqueados e agora já retomando as atividades há 15 ou 20 dias”, contou.
Como os supermercados foram afetados, Salomão também explica que a estratégia na Interatlantic é atender os distribuidores e a ideia é pegar o maior nicho de mercado possível.
Aposta no segundo semestre
Já Pablo Basso, da argentina Iberconsa, também aguarda um segundo semestre positivo para as importações no Brasil. Segundo ele, a esperança está que a partir de julho a empresa volte a enviar volumes similares aos vistos em 2019, além de uma aposta na possibilidade de importação do camarão argentino.
Basso informou como a pandemia foi sentida no país, sobretudo do filé de Merluza, um de seus principais produtos. Entre 2018 e 2019 o produto teve um incremento das importações da Argentina ao Brasil em mais ou menos 15% de volume.
Em uma comparação nas importações brasileiras entre janeiro e abril de 2019 foram 9.150 toneladas vindas. Já em 2020, o mesmo período registrou uma diferença de apenas 100 toneladas com um total de 9.200 toneladas. “Mas, se você faz uma projeção considerando um incremento de 15%, eu acredito que Argentina exportou ao Brasil, entre janeiro e abril deste ano, por causa da Covid-19, mais ou menos 1.200 toneladas a menos do que deveria ter exportado”, explicou.
Ele também revela que a produção central de filés de merluza foram direcionadas para mercados da Espanha e uma pesca boa de lula também ajudou no período, fazendo os volumes de exportações argentinas se manterem praticamente os mesmos, embora para o Brasil não tenha enviado nenhum produto de abril em diante.
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