Drica dá visibilidade às mulheres e aos pleitos da pesca artesanal
Pesca

Drica dá visibilidade às mulheres e aos pleitos da pesca artesanal

Ela rompeu com velhos paradigmas da pesca para presidir colônia Z-26 e se tornar a vereadora mais votada de Balneário Piçarras em 2020

12 de abril de 2022

A pesca artesanal não existe sem a participação da mulher. Com marido pescador, Adriana Ana Fortunato Linhares, sabe exatamente o que esta frase significa. “O esposo sai às 4h. Então, todos os dias ela o acorda e prepara o café. Quando ele chega, 12 horas depois, ela já está esperando no trapiche com gelo e óleo e leva o peixe ou camarão para casa para prepará-lo. 
 
Só que a mulher se vira com todo o resto: leva o filho à escola, faz almoço, vai ao banco, compra a peça do barco que quebrou…”, enumera Drica, como é conhecida em Balneário Piçarras (SC).
 
Agentes ativas da atividade pesqueira, as mulheres são invisíveis aos olhos do Estado e até dentro do próprio setor. Drica foi uma das que não se deixou invisibilizar. Quando teve o primeiro filho, decidiu buscar a licença maternidade.
 
Na colônia, ouviu: “Esquece, tu não consegue”. Inconformada, foi à Itajaí (SC) cobrar o direito no INSS e o conseguiu, apesar da falta de respaldo da própria colônia que a deveria auxiliar.
 
Se a estrutura criada para defender seus interesses tinha deixado de servir para isso, estava na hora de transformá-la. Drica “perturbou” o marido, Alex, para que disputasse a presidência da colônia. “Nós somos pescadores. Se nós não nos importarmos em fazer a diferença, ninguém vai se importar”, disse. Ela tinha observado uma tradição de uso político da estrutura ou para benefícios particulares. “As pessoas diziam que estavam fazendo um favor para nós.”
 
A muito custo, Alex conseguiu fazer uma chapa com 12 pessoas. Quando foi colar na parede um cartaz para promover a candidatura, deu-se conta de que seria impossível ele ir ao mar e cuidar da colônia. Foi aí que Drica deu a ideia dela se candidatar no lugar do marido para que assim, ele pudesse se dedicar ao trabalho e ela, à função de presidente da colônia, caso fosse eleita.
 
No entanto, Drica manifestou seu receio do preconceito à candidatura, que se confirmou em parte: alguns abandonaram a chapa pelo fato de a candidata ser mulher, mas a maioria se manteve ao seu lado. A eleição veio e a chapa da renovação venceu.
 
“No outro dia, caiu a ficha”, relembra Drica. A falta de estrutura era flagrante: o local da Z-26 era um dormitório de andarilhos, com mato para todo lado e apenas uma mesa precária com centenas de documentos de pescadores empilhados. Drica, Alex e a tesoureira Luzia fizeram mutirões para organizar tudo, mas faltava braço.
 
Enquanto o marido batia na porta de empresas pedindo apoio, a presidente foi direto ao então prefeito de Piçarras, Leonel Martins, e ouviu a promessa de ter uma funcionária. Como ela não veio logo, Drica se plantou diante do gabinete dele uma tarde toda até que ele cumprisse o que prometeu.
 
Drica se tornou popular pela sua determinação em defender a colônia e os pescadores, o que chamou a atenção de Leonel. O prefeito a convenceu a se candidatar a vereadora com o mote “Quem não gosta de política será governada por quem pode”. Sem dinheiro para a campanha, Drica, mãe de duas crianças, passou 45 dias na rua para pedir voto e  apresentar uma plataforma em defesa do povo mais vulnerável.
 
A novata na política enfrentou o boicote de tubarões do partido e o ceticismo local para conquistar 536 votos e se eleger com a maior votação de 2020. Dois anos depois, ela sonha em construir um Mercado do Peixe na região para legalizar a venda dos pescadores artesanais. Se alguém lhe disser que não consegue, Drica já está preparada para provar o contrário.
 
Leia a reportagem em “Personagem” na Seafood Brasil #42 que está disponível aqui.
 
Créditos: Divulgação
 

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