A revista Globo Rural trouxe uma ampla reportagem sobre como a poluição das águas do planeta ameaça 5% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.
O valor, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), representa US$ 3 trilhões por ano e está relacionado à atividade pesqueira, principal vítima do lixo que toma conta dos oceanos e chega às comunidades que dependem da pesca ou aquicultura para sobreviver.
Neste ano, o assunto deve ganhar relevância, por ser considerado pela ONU o início da Década dos Oceanos. Além da vida marinha, faz parte desse universo aquático os 13 mil pedaços de lixo plástico por quilômetro quadrado, poluição que toma conta de 40% dos oceanos.
Apesar de trazer críticas à pesca industrial e à carcinicultura, o veículo se concentra na falta de saneamento básico e poluição de outros setores. Consultado pela revista, Miguel Accioly, professor da UFBA, explica que a pesca artesanal é muito mais afetada pela poluição que a atividade industrial. “A pesca artesanal já está sendo muito afetada por vários tipos de poluição, das indústrias, petroquímicas e portos de mineração, mas o impacto não é mensurado oficialmente e a população sente isso diretamente. Inclusive na qualidade do pescado, que vem contaminado, e na quantidade, pois algumas espécies são mais impactadas, por não conseguirem se reproduzir, devido à pesca industrial abusiva ou à falta de defeso."
Situação alarmante
O veículo traz a situação alarmante do farol da Praia de Galinhos, no Rio Grande do Norte, que é um dos principais pontos turísticos da península. Sem aterro sanitário e água encanada, moradores já viveram majoritariamente da pesca, mas agora precisam arranjar outras atividades para sobreviver.
Rosângela da Silva, presidente da Colônia de Pescadores de Galinhos, reclama que os resíduos sólidos geram o chorume, penetrando no lençol freático. “Cada pessoa tem poço nas suas casas, e essa água está contaminada. Além do consumo direto, isso também contamina mariscos, peixes, além do lixo voar e ir para o oceano”, conta, ao caminhar entre os resíduos.
Zuleide Maria Carvalho Lima, professora titular do departamento de geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), lembra que o processo de erosão é algo que sempre existiu. Ainda assim, ela concorda que há construções, como bares e pousadas, que estão em uma área chamada de "pós-praia", em que “a onda precisa se espraiar e a prefeitura infelizmente concedeu permissão para construção na ponta da enseada”. A prefeitura de Galinhos não retornou o contato da Revista Globo Rural.
o cenário também é preocupante no município de Nísia Floresta, a cerca de 40 quilômetros da capital potiguar, Natal. Ariocó, cioba, serra, tainha e bonito são algumas espécies de peixes da região, mas que na rede vêm acompanhadas de tampas, garrafas e restos de sacola plástica.
Susana Araújo, presidente da Colônia de Pescadores de Pirangi do Sul, lembra dos tempos em que se pescava entre 30 e 40 quilos de peixe em poucas horas. Passada uma década, o barco que viajou dez horas entre ida e volta rende apenas um cesto, o qual ela carrega nos braços, com no máximo 10 quilos de pescado.
Para Alitiene Pereira, pesquisadora especialista em aquicultura da Embrapa Tabuleiros Costeiros, a alteração na dinâmica de reprodução dos peixes está ligada à ocupação humana desordenada. Isso inclui poluição e especulação imobiliária, causando assoreamento de áreas costeiras e piorando a qualidade da água, mediante a redução da concentração de oxigênio.
Lígia Rocha, coordenadora da ONG Oceânica, que atua no Rio Grande do Norte, mostra uma coleção do que chama de lixo internacional, com rótulos do Vietnã, Malásia, África do Sul, China, Coreia do Sul, Namíbia, entre outros, recolhido na faixa de areia entre as praias de Tabatinga e Búzios. “São garrafas do que parece ser água, produtos de limpeza, detergente, sinalizando lixo trazido por navios, talvez da tripulação”, falou.
Ela observa que não há uma legislação que cuide do lixo descartado por embarcações na costa brasileira, tampouco qualquer estudo e acompanhamento por parte da Secretaria da Pesca quanto ao desdobramento disso para a atividade. Consultado, o órgão federal não respondeu à Revista Globo Rural.
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